O professor de neurobiologia da Universidade de Brasília (UnB), João Carlos Abrahão, teve de explicar para a polícia porque mantinha, em uma chácara de Santa Maria, cérebros de chimpanzé, lâminas com tecidos do corpo humano, corpos de gatos, cachorros e fetos.
Apesar de ter apresentado a documentação sobre o direito de posse e ter alegado que o material fazia parte de um extinto laboratório do Departamento de Ciências Fisiológicas da instituição, onde ele trabalhou por duas décadas, o docente acabou indiciado por colocar a saúde dos moradores do lugar em risco ; uma mulher e quatro crianças que cuidam do terreno. Agentes da Vigilância Sanitária encontraram grandes quantidades de formol e lâminas com sangue espalhadas pelo sótão da chácara, que fica próxima ao condomínio São Francisco, na BR-251.
A denúncia sobre o armazenamento dos tecidos animais partiu do capitão do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal Jorge Bento, que foi visitar uma mulher que cuidava do terreno há oito meses. "Ela morava de favor lá e disse que o professor tinha pedido para ela sair. Fui lá para ver se arrumava um lugar para ela e, quando entrei, vi um monte de pedaço de bicho guardado na casa", lembrou o militar. Ele E a caseira do local, Hildete Guilhermina, 38 anos, foram até a 33ª Delegacia de Polícia (Santa Maria) denunciar a natureza do material e o risco que eles ofereciam para a saúde de quem vivia na chácara. "Nunca aconteceu nada comigo e com as crianças, mas eu acho estranho. Ele guarda cachorro morto, cérebro de bicho", contou a Hildete.
Em entrevista ao Correio, o professor da UnB explicou que todo o material fazia parte de um laboratório extinto em 2005 e apresentou toda a documentação com a lista de produtos que ele resolveu guardar em casa. João Carlos, que hoje faz doutorado na França, contou que tem planos de reabrir um centro de estudos no futuro.
O documento que dá guarda do material para o estudioso é assinado pelo agente patrimonila da UnB Valdir Filgueiras. "Peguei os produtos quando o laboratório fechou, para não perder os objetos de estudo. Isso tudo foi uma mal entendido", argumentou o docente. O delegado adjunto da 33ª DP, Victor Dan, ressaltou que, mesmo com a documentação em dia, ele pode pegar até dois anos de detenção por expor a saúde de terceiros ao risco. "Vamos continuar as investigações para apurar se há irregularidades na obtenção do material", concluiu o delegado.