Jornal Correio Braziliense

Cidades

Pedestres com 60 anos ou mais são principais vítimas de atropelamentos

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No Distrito Federal, a chegada da terceira idade tem relação direta com o aumento das mortes por atropelamentos. Os pedestres com 60 anos ou mais são as principais vítimas na hora de atravessar as pistas. Enquanto a média geral de mortes por atropelamentos fatais na capital federal está em 5,6 casos a cada 100 mil habitantes, entre os idosos o índice é três vezes e meia maior: 20,4 mortes por grupo de 100 mil moradores. Em números absolutos, dos 136 casos ocorridos no ano passado, 30 vítimas tinham mais de 60 anos. Presidente da Abraspe fala sobre riscos de atropelamento De acordo com os especialistas em trânsito, o idoso é muito mais vulnerável à violência no trânsito do que a população em geral. Seja porque perde progressivamente a capacidade de avaliação de risco ou por conta das falhas do sistema viário. ;Com a idade, a pessoa perde parte da visão, da audição e se locomove com menor velocidade. Às vezes, o próprio idoso não tem a consciência de que o tempo passou e ele não é mais capaz de fazer as mesmas coisas que fazia há 10, 20 anos;, analisa o professor da Universidade de Brasília Renato Maia, presidente da Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria, uma entidade de educação e pesquisa em envelhecimento com representantes em 65 países. Além das limitações que chegam com a idade, Renato Maia aponta falhas: a falta de educação para o trânsito; faixas apagadas ou mal iluminadas; e sistema semafórico adaptado às pessoas jovens. ;Um jovem de 30 anos provavelmente leva a metade do tempo que uma pessoa de 80 para fazer uma travessia;, comparou. O perigo aumenta porque os idosos também não respeitam as leis de trânsito. Ao percorrer as ruas do Plano Piloto, é possível notar uma quantidade considerável de idosos se aventurando entre os carros. Na maioria dos casos, homens e mulheres escolhem correr perigo em vez de andar um pouco mais até um sinal de trânsito ou passar em uma faixa de pedestre. Para escapar dos veículos em alta velocidade, só restava correr para chegar ao outro lado da calçada. Na comercial da 308 Norte, na manhã da última sexta-feira (15/08), um idoso com a perna quebrada, com auxílio da bengala e sacolas do supermercado nas mãos, quase foi atropelado ao atravessar a via fora da faixa. Um motorista que trafegava em alta velocidade precisou frear bruscamente para que o homem concluísse a travessia. Enquanto isso, outro carro que saía da W1 também parou rapidamente. Mesmo com as buzinas e a confusão durante alguns segundos, o idoso, que não quis se identificar, não enxergou perigo na travessia. ;Faço esse caminho sempre. Não tem problema;, garantiu. Para o presidente da Associação Brasileira de Pedestres (Abraspe), Eduardo José Daros, é incompreensível que o idoso não tenha consciência das suas limitações. ;Que ele fica mais vulnerável porque anda mais devagar, não enxerga bem, perde parte da audição, isso tudo faz parte do processo de envelhecimento. Agora é fundamental cada um perceber e entender isso;, alerta. O aposentado Waldemiro Corrêa de Faria, 81, mora na 304 Norte e anda todos os dias pela região. Ele lembra bem do dia em que um carro em alta velocidade não conseguiu fazer a curva na entrada da quadra e quase o atingiu no lado oposto da rua. Waldemiro conseguiu dar um passo para trás e puxar a mulher, também idosa, a tempo. ;É muito difícil atravessar ruas de mão dupla. É preciso paciência e muito cuidado. A melhor opção é passar no sinal;, reconheceu. Embriaguez Apesar de a quantidade de atropelamentos de pedestres ter caído nos últimos anos, o diretor-geral do Detran, Jair Tedeschi, diz que é preciso fazer muito mais. ;A luz vermelha está acesa. Até o fim deste mês vamos começar uma campanha com foco no pedestre;, antecipou ele. O balanço parcial do órgão de trânsito revela aumento de 14,2% no número de pedestres mortos no DF entre janeiro e julho em comparação com o mesmo período de 2007. Foram 88 casos este ano contra 77 no ano passado. Os dados dos primeiros 10 dias de agosto são ainda mais graves. Das 13 mortes no trânsito, sete foram por atropelamentos, todos fora da faixa de pedestre. E duas das vítimas estavam embriagadas. Tedeschi considera a situação grave e lembra que a responsabilidade pela queda nas mortes é de todos. ;O pedestre é sim a parte mais frágil. Mas tem que se cuidar. A faixa veio para garantir a segurança dele. Nela, ele é o rei. Tem ainda os semáforos, as passarelas. Porém, muitas vezes, ele prefere atravessar entre os carros a andar 200 metros;, destacou.