A Justiça Federal concedeu liminar em favor do Le Cirque, na noite desta terça-feira (12/08), autorizando espetáculos com animais. O circo armado no estacionamento do Estádio Mané Garrincha havia perdido o direito de exibir os bichos em apresentações ao público. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) autuou a empresa por maus-tratos contra 14 representantes de especies exóticas. Três deles, um hipopótamo e dois macacos, foram apreendidos e levados para o Zoológico de Brasília, mas a empresa conseguiu na 9ª Vara Federal o direito de reaver os animais. Eles devem voltar aos alojamentos na manhã desta quarta-feira (13/08), assim os shows continuarão normalmente.
Os animais vivem há duas semanas nos fundos da tenda montada no local. Girafas, elefantes, camelos, pôneis, um rinoceronte e uma zebra vivem em um mesmo espaço, separados por cercas. Durante fiscalização, o Ibama constatou problemas de maus-tratos, de sanidade sanitária e segurança pública. Segundo os fiscais, os mamíferos não estão vacinados contra raiva, os macacos tiveram os dentes arrancados, as girafas não têm espaço para erguer o pescoço e todos vivem em ambientes pequenos.
Foram detectadas sérias restrições aos seis elefantes. Eles vivem em áreas de aproximadamente 25 metros quadrados, equivalente ao tamanho médio de uma quitinete. De acordo com recomendações do Ibama, os bichos passavam a noite presos pelas patas e precisariam de um tanque de água. O órgão revelou que os paquidermes teriam fácil acesso ao Eixo Monumental se conseguissem fugir do circo. "Pedimos que eles simulassem uma fuga e uma pessoa pegou uma pistola de dardos. Não tinha um veterinário nem um plano de contenção para emergência", disse o coordenador de operações do Ibama, Roberto Cabral.
A operação de retirada dos animais quase acabou em fiasco na manhã de ontem. Foram quatro horas de gritaria, cassetetes em punho e muito choro. Duas mulheres passaram mal e foram acalmadas pelo Corpo de Bombeiros. Homens e crianças fizeram um cordão humano próximo à carreta que carregava o hipopótamo em protesto à apreensão. O Ibama expulsou as equipes de imprensa da tenda e, quando as câmeras não estavam mais filmando, desfizeram o protesto e permitiram a saída de três bichos. Uma manhã inteira de desordem resultou no adiamento do trabalho: o órgão deu 24 horas para os funcionários do circo organizarem a retirada dos 11 animais que restaram.
Cerca de 30 artistas se apresentam no circo, que é mantido com o trabalho de 50 famílias. Eles viajam pelo Brasil com o espetáculo e já vieram a Brasília cinco vezes. O Le Cirque existe há 280 anos e possui animais de até 70 anos de idade. ;Nunca tivemos problema em outras cidades do país. Temos uma carreta cheia de alface e feno, gasto duas toneladas de comida por dia para alimentar os bichos. É só uma hora de exibição;, explicou o gerente do circo, Ricardo Gondor Júnior. Ele afirma que paga R$ 10 mil por mês ao GDF como aluguel da área ocupada. O circo recebeu multa de R$ 28 mil por maus-tratos a 14 animais.
A diretora-geral da Associação Protetora dos Animais do DF (Proanima), Marina Corbucci, acompanhou a operação e se indignou com a situação dos animais. ;É impossível ter recintos adequados para bichos no circo. Cada animal precisa de condições específicas; aqui eles não fazem nada e isso causa muito estresse;, comentou. Ela lembra que a última aparição de circo com bichos em Brasília foi na temporada de 2006 do Le Cirque.