A redução dos acidentes com a lei de tolerância zero para quem bebe antes de dirigir trouxe alívio para as emergências dos hospitais. Os servidores perceberam que os atendimentos diminuíram, assim como a gravidade das lesões dos pacientes. Isso ocorre principalmente nos fins de semana. ;Nesse horário, você não chegaria aqui e encontraria tudo parado assim;, disse, na tarde de ontem, o responsável pela sala de gesso do Hospital Regional de Ceilândia (HRC), o técnico em ortopedia e traumatologia Antônio Fernandes. Por volta das 15h, havia apenas um paciente no local: ele quebrou o pé em um acidente doméstico.
Segundo a equipe, em uma sexta-feira à tarde, era comum os corredores da emergência do HRC estarem abarrotados de pacientes. Mas ontem pouca gente aguardava para ser atendida ; nenhuma era vítima de acidente de trânsito. Havia até bancos vazios. Na porta, apenas uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) esperava a equipe para voltar à central. ;Eram sempre duas ou três (ambulâncias) a toda hora;, comentou Antônio Fernandes. ;Antes, todos os dias eram cerca de 80 atendimentos. Agora, são menos de 50;, comemorou.
Menos brigas
A chefe da equipe de plantão, a médica Vânia Malta, conversou com a reportagem sem ser interrompida por pacientes ansiosos com a demora no atendimento. ;Visivelmente o plantão tem sido mais tranqüilo. Tanto na ortopedia quanto na traumatologia, os casos diminuíram muito;, disse, citando dois setores muito acionados antes da lei seca. ;O mais difícil era agüentar os embriagados discutindo com os médicos. Até as brigas de marido e mulher, que eram comuns aqui por conta de embriaguez, diminuíram bastante; , garantiu.
Para Vânia, a lei seca deveria ter vindo antes. Ela se comoveu ao lembrar do estado em que encontra as vítimas dos acidentes greve. ;E não são só elas que sentem. Sofre a família, os amigos;, comentou entristecida. Mas, logo depois, com o sorriso de volta à face, ela encerrou a entrevista: ;Agora, a gente sai de uma festa sem medo dos outros que se embebedaram;.
No Hospital Regional do Gama (HRG), os médicos contam que, com menos bêbados no pronto-socorro, as condições de trabalho melhoraram. ;Quando o GDF proibiu a venda de bebidas depois das 22h, o número de atendimento já diminuiu bastante. Agora, com a lei seca, a queda foi ainda maior;, disse o médico Ábilton Borges, chefe da equipe de cirurgia.
Segundo ele, depois da proibição total da mistura bebida e volante, o estresse dos profissionais diminuiu muito. ;Muitas vezes, temos que chamar até seis policiais para segurar o paciente. Embriagado, ele acha que vamos machucá-lo ao dar pontos em um ferimento;, exemplificou. ;O bêbado quer agredir a gente, quebra os equipamentos, xinga a equipe. Ele não sabe nem dizer como se feriu.; Nos sábados, entre meia-noite e 6h, 99% dos pacientes atendidos por Ábilton Borges chegavam bêbados ou drogados ao hospital. ;Com a lei seca isso tem diminuído;, disse o médico.
A emergência do HRG estava lotada por volta das 16h30 de ontem, mas os pacientes aguardavam calmamente. Não havia vítimas de acidente de trânsito e poucos procuravam atendimento por causa de traumas, segundo Ábilton. A sala só estava cheia porque havia apenas um médico para atender todo mundo, contou, ao pé do ouvido, um funcionário que não quis se identificar.