Jornal Correio Braziliense

Cidades

Governo estuda transformar espaços destinados a restaurantes em áreas públicas

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Dois canteiros de obras em quadras comerciais na Asa Sul têm provocado reclamações dos moradores que não querem mais lojas na região. Os terrenos na 105 e na 116 Sul são particulares e estão cercados para a criação de novos empreendimentos. Esses lotes são conhecidos como RUVs (Restaurantes de Unidade de Vizinhança) e foram previstos por Lucio Costa no plano original do Plano Piloto. Os RUVs ficam na ponta das comerciais das quadras 100 e 200 e seriam usados na construção de restaurantes para a comunidade. Um decreto de 1988 mudou a destinação das terras e liberou a criação de qualquer tipo de comércio. Dos 16 terrenos disponíveis entre a 102 e a 116 Sul, 12 estão ocupados por mercados, academias, bares, padarias e lojas. Dos quatro restantes, dois estão em obras e outros dois ; na 112 e na 115 ; não têm nenhum projeto aprovado pelo GDF. As 16 comerciais das 200 também têm lotes reservados para os RUVs, mas apenas um foi construído, o da 203. Antes da obra, o terreno da quadra teve de ser remarcado para evitar que as lojas invadissem a passagem de pedestres. ;A população das 200 sempre reivindicou que o lote fosse destinado a outra finalidade ou recomprado pelo governo para virar área pública;, explicou o administrador de Brasília, Ricardo Pires. Vaca em curral Em março deste ano, moradores da 208 Sul protestaram contra a situação do lote da quadra. Eles colocaram uma vaca de papelão em tamanho natural dentro do cercado do terreno, que lembrava um curral. Os terrenos dessa região estão protegidos por um decreto assinado em março de 2006 pelo então governador Joaquim Roriz. O documento publicado no Diário Oficial do DF transformou os RUVs vagos em área de utilidade pública, mas eles nunca foram trocados ou comprados pelo governo local. Segundo Ricardo Pires, existem três alternativas viáveis para os terrenos das 200. Eles poderiam ser desapropriados e, em troca, os proprietários receberiam indenizações. A segunda opção é remanejar o lote e restringir a destinação. Dessa maneira, a área de aproximadamente 340 metros quadrados seria mantida, mas as construções não invadiriam as calçadas. As construtoras não poderiam abrir bares, restaurantes ou casas noturnas para evitar problemas com barulho e estacionamento. Outra alternativa é a permuta. Os lotes seriam trocados por áreas vazias na orla do Lago Paranoá, Águas Claras, Noroeste ou Plano Piloto. ;Do ponto de vista do governo, é mais fácil fazer o remanejamento ou a permuta. Estamos buscando uma solução que atenda à comunidade respeitando os direitos dos proprietários, porque eles não invadiram nada;, justificou o administrador. Segundo ele, após um contato inicial, o Tribunal de Contas do DF revelou que a permuta poderia ser feita pelo bem do interesse público. O governo aguarda a formalização dessa resposta para enviar à Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap). Transtorno com obras Em maio, a musicista e moradora da 116 Sul Hortência Doyle, 52 anos, se surpreendeu com os tapumes que apareceram no RUV da quadra, antes coberto por jardim. Ela organizou um abaixo-assinado entre os vizinhos para tentar conter a obra e o conseqüente aumento no fluxo de carros na comercial. ;O maior problema é de estacionamento e engarrafamento. A quadra fica muito cheia em certos horários. É uma questão de qualidade de vida;, comentou. A prefeita da quadra, Nyres Oliveira, recebeu inúmeras reclamações depois que o canteiro de obras foi montado. Segundo ela, a maioria dos moradores defende a manutenção da área verde para evitar mais transtornos no trânsito. ;A quadra já está cheia de carros. Está para abrir mais um restaurante, isso vai ficar uma loucura;, afirmou. A prefeita firmou um acordo com a construtora responsável, que prometeu não abrir restaurante, bar ou boate no local. O prédio deve ser entregue até o fim do ano, mas a construtora não informou o que funcionará ali ; existem propostas de uma academia, um banco e uma rede de lojas. Moradora há 32 anos da 105 Sul, a economista Ana Paula Moraes, 33, também tem receio da quantidade de carros que o comércio pode atrair para a quadra. ;Não haverá mais vaga. Vai virar uma bagunça. Além do mais, essa era uma área que eu usava para caminhada, cheia de árvores. Agora é só poeira.; O canteiro de obras está montado desde abril e algumas árvores foram removidas para a escavação, segundo o prefeito da quadra, Frederico Goepfert. ;Todo mundo estranhou porque aquilo ficou abandonado por muito tempo, era só o gramado. A principal reclamação é por causa dos carros, qualquer hora não vai ter mais vaga aqui;, argumentou. De acordo com a Administração de Brasília, os RUVs da 105 e da 116 não receberam autorização para montar o canteiro de obras.