Comerciantes da cidade classificam como lastimável o movimento nos bares e restaurantes no último fim de semana. A procura por tais opções de lazer, as preferidas dos brasilienses, caiu 50% nas noites de sexta, sábado e domingo. Mas, mesmo quando a casa ficava cheia, os copos permaneceram vazios. Com medo de serem flagrados pela fiscalização, os clientes optaram por não beber. A venda de bebidas alcoólicas teve redução de até 35% na maioria dos estabelecimentos. Casais em jantares românticos brindaram com suco no lugar do vinho. Para não levarem prejuízos, os empresários pensam em soluções para convencer as pessoas a cumprir a lei e continuar consumindo a cervejinha. E, como a legislação proíbe apenas a direção depois de beber e não a bebida em si, o jeito é bancar a volta dos clientes para casa.
Donos de estabelecimentos filiados ao Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes do DF (Sindhobar) reuniram-se na última segunda-feira para discutir o assunto. Eles ainda não chegaram a um consenso, mas pensam em contratar vans ou fechar convênios com taxistas para fazer um sistema delivery de clientes que beberam. ;Nosso objetivo é levar o cliente em casa com segurança. Assim, vamos gerar empregos, diminuir o trânsito e facilitar a busca de vagas;, afirma o presidente do Sindhobar, Clayton Machado. Os bares estudam a possibilidade de lançarem uma campanha chamada Divirta-se com Segurança. Sexta-feira os comerciantes voltam a se reunir para decidir o que fazer.
Entre os 2,5 mil estabelecimentos do Plano Piloto, já surgem iniciativas para garantir a diversão do brasiliense aos fins de semana. O chef Dudu Camargo, por exemplo, contratou 30 duplas de motoristas e motoboys para garantir o retorno seguro de quem quiser jantar e, ao mesmo tempo, consumir bebidas alcoólicas. Por um preço entre R$ 5 e R$ 50, o motorista leva o cliente em casa, no próprio carro do cliente. O motoboy vai seguindo o veículo para levar o condutor de volta ao restaurante. ;Se um casal sai de casa para deixar o filho em uma festa e decide ir jantar, eles podem beber e, na volta, passar na festa e buscar o filho. O motorista fará tudo isso;, diz Dudu. O serviço começa a funcionar nesta sexta-feira e vale para os restaurantes Dudu Camargo, Yours, Da Noi, Unanimitá, Dudu San e as pizzarias Fratello Uno.
A chef Mara Alcamin também pensou em uma alternativa. Os clientes dos restaurantes Zuu e Universal poderão ir de táxi que, na volta, a corrida será paga pela empresária. Ela fechou um acordo com uma cooperativa de taxistas e fixou uma tabela única de corridas para a área central de Brasília. O serviço começa a funcionar hoje e vale para o jantar. ;A gente quer que o cliente se sinta à vontade. As pessoas estão deixando de beber. Queremos mostrar que é possível se divertir muito mais sem se preocupar em voltar dirigindo para casa;, conta.
Na balada
Quem for mais animado e quiser se divertir na balada também começa a encontrar formas de beber sem se preocupar com as blitzes. No próximo dia 26, uma grande festa de música eletrônica ocorrerá no Centro de Convenções: a turnê internacional Space of Sound, uma boate de Madri freqüentada por até 800 mil pessoas por ano. A grande atração será a área open bar, com bebida liberada. E, para que as pessoas não deixem de comprar o ingresso, o produtor da festa, Marcelo Augusto Machado, oferecerá três opções. A primeira delas, gratuita, será a van, que sairá com hora marcada da festa para deixar as pessoas em casa. Os baladeiros também poderão pagar R$ 30 reais para ser buscado em casa e levado de motorista. Há, ainda, um serviço mais luxuoso (a limousine) e mais caro (R$ 100). ;Mesmo com a lei, muita gente ainda volta para casa depois de ter bebido. Esse é um tipo de amigo da vez;, afirma Marcelo.
O nutricionista Pedro Vinícius Freire Bezerra, 27 anos, não deixou de se divertir no último fim de semana. Mas, com outros cinco amigos, pensou em uma forma de beber sem ser flagrado em blitzes. O grupo deixou os carros na casa de um deles, no Lago Norte, e dividiu dois táxis até a Festa do Seu João, no Setor de Clubes Sul. A corrida deu R$ 10 para cada um. Na volta, Pedro encontrou um amigo que não bebe e voltou de carona. Assim, pôde beber o tanto que quis. ;Até fomos brincando que era a primeira vez que andávamos de táxi em Brasília. Acabou que eu bebi duas latas de cerveja a noite toda. Mas a lei não permite nem isso;, disse Pedro, que considera a legislação exagerada.