Jornal Correio Braziliense

Cidades

Anabolizantes eram negociados pelo MSN

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Dois integrantes da quadrilha que vendia anabolizantes e medicamentos proibidos ou de uso controlado no Distrito Federal foram submetidos ontem a teste grafotécnico. O exame feito pelo Instituto de Criminalística da Polícia Civil vai revelar se eles preencheram o envelope do Sedex enviado de São Paulo para três endereços de Brasília ou se foi outra pessoa. Era assim que parte do bando despachava as mercadorias ilícitas. O resultado do laudo deve sair em 15 dias.

À medida que as investigações avançam, a polícia descobre detalhes sobre o modo de agir da quadrilha. Após vasculhar os arquivos dos oito computadores apreendidos, os agentes encontraram uma lista com a relação de 60 itens de medicamentos (veja fac símile). O documento continha preço e disponibilidade em estoque. Os valores variavam de R$ 6 a R$ 180. Pelo menos 12 produtos não saíam por menos de R$ 100.

A comercialização, segundo a titular da 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul), Martha Vargas, ocorria até pelo serviço de mensagens instantâneas na internet (MSN). Os bate-papos foram recuperados da memória do computador pela polícia. Nas conversas, o grupo combinava o preço, o dia, a hora e o local de entrega. Mas o negócio ilegal também era gerenciado por meio de anotações em folhas avulsas. Com uma das mulheres presas, os agentes encontraram oito páginas de caderno e um bloco de anotações. Além de listas de medicamentos com preços e descontos, há também nomes e telefones ; que podem ser de compradores ou de fornecedores ; e até números de banco, conta e agência.

Prisão preventiva
Dez pessoas foram presas durante a Operação Bomba Atômica, na quarta-feira passada. Uma delas, de São Paulo, é apontada pela polícia como o ;braço forte; do grupo. O irmão dele continua foragido. Os agentes ainda apuram o envolvimento de mais duas pessoas, uma de Santa Catarina e outra do Rio Grande do Sul.

Além das prisões, a polícia cumpriu 15 mandados de busca e
apreensão no Plano Piloto, Lago Sul, Guará, Taguatinga e São Sebastião. Os agentes ainda procuram os fornecedores das substâncias, que moram fora de Brasília. Eles são acusados de falsificação e adulteração de produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais. Nos últimos 60 dias, agentes monitoraram os passos dos acusados, juntando provas concretas para fortalecer o inquérito, segundo a delegada. ;Temos certeza do envolvimento de todas as pessoas que foram presas e de algumas que ainda serão;, garantiu Marta Vargas.

Nas casas dos detidos foram encontrados anabolizantes de uso ilegal, suplementos alimentares e vitaminas sem registro na Anvisa, além de 20 mil cápsulas vazias que seriam usadas na falsificação de medicamentos. Havia pelo menos 380 embalagens de anabolizantes e 179 de suplementos alimentares, 20 celulares, oito computadores, sete carros, quatro motos, R$ 42 mil em espécie e um valor ainda não calculado em cheques.

Até o fim da semana, a delegada Martha Vargas espera ter elementos fortes o suficiente para pedir a prisão preventiva de parte dos investigados. Se a Justiça acatar a solicitação, essas pessoas ficarão presas até o julgamento. ;As investigações estão a pleno vapor. Agora, estamos verificando todo o material apreendido. Esperamos receber da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) um relatório sobre a situação de cada um dos medicamentos;, explicou.

Os acusados podem pegar de 10 a 15 anos de prisão. A condenação é mais pesada do que a por tráfico de entorpecentes (de cinco a 15 anos). As substâncias apreendidas pelos 90 agentes que participaram da operação eram comercializadas em lojas dentro de academias, farmácias e até em um lava a jato. Os jovens de classe média acusados continuarão detidos pelo menos até o fim desta semana. No último sábado, a delegada Martha Vargas conseguiu estender a prisão temporária do grupo. Segundo ela, é fundamental que a quadrilha permaneça atrás das grades, uma vez que ainda existem pessoas para serem detidas. ;Se ficarem soltos, vão se comunicar e destruir as provas;, ressaltou Martha.