A família da engenheira florestal Valquíria Golçalves, 38 anos, recebeu um novo integrante na manhã de ontem. O vira-lata Bob, espancado na última quinta-feira pelo namorado da ex-dona, na 410 Sul, foi recebido com festa pelos moradores de um prédio em Taguatinga Norte. A adoção é uma decisão do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O autor dos maus-tratos é o estudante de ensino médio Patrick de Moitrox, 18 anos. Os agentes ambientais chegaram à conclusão de que a aluna do curso de medicina veterinária Maíra Palazzo, 19 anos, então dona do animal, não era capaz de cuidar do bicho.
Maíra perdeu a guarda do vira-lata e Patrick recebeu uma multa de R$ 2 mil. Ele ainda pode ser condenado a uma pena de três meses a um ano de detenção, como prevê o artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais. Uma série de entrevistas foram feitas para decidir com quem Bob ficaria. No final da manhã de ontem, Valquíria recebeu permissão para levar o cachorro para casa, na QNL 5.
O bicho sofreu ferimentos na tíbia direita e na bacia. Depois de passar por uma cirurgia, Bob está fora de perigo. Porém, ele será levado semanalmente ao Centro Clínico Veterinário da Asa Sul, durante os próximos 60 ou 90 dias, para a troca dos curativos. Apesar do trauma pelo qual passou, Bob é dócil. Com menos de 12 horas no novo apartamento, o cachorro já havia se adaptado aos carinhos de Alice, 7 anos, e Ana Júlia, 7 meses, filhas de Valquíria.
O presente chegou em boa hora. Há três meses, a família Gonçalves perdeu a cadela de estimação. ;Nós estávamos sofrendo muito com a morte da Pandora. Quando vi o caso dele, meu coração amoleceu na hora. Eles são tão parecidos%u2026;, relembra Valquíria. Tanto a cadela morta quanto Bob têm características da raça poodle. ;O cãozinho sofreu muito. Ele veio para o meu colo e eu me apaixonei;, emocina-se Alice.
Desde que Bob chegou, ele é a estrela do prédio na QNL 5. Os vizinhos telefonam o tempo todo para Valquíria, pedindo para conhecê-lo. ;O Bob é muito bonzinho. Não dá para acreditar nessa maldade;, indigna-se Ana Carolina Souza, 7, vizinha da família. De janeiro a junho, houve 139 casos de denúncias de maus-tratos a animais registradas na Linha Verde do Ibama: 26 delas foram registradas no DF. Os casos de violência contra cães e gatos são os mais freqüentes. O telefone para atendimento é o 0800 61 8080. O serviço funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h.
Lágrimas
Seis dias após o ocorrido, Patrick de Moitrox ainda não voltou para casa. Ele e Maíra moravam juntos em um apartamento na 410 Sul. A proximidade entre eles é o motivo para o Ibama tirar o animal da estudante. ;O Patrick o veria sempre e, sendo assim, resolveram levá-lo para outro lugar;, explica Maíra.
O estudante se disse arrependido e alegou que não teve a intenção de machucar o cão. Também contou ter medo de ser linchado, caso volte para casa. De acordo com o rapaz, Bob fugiu da coleira pela qual Maíra o segurava e as lesões surgiram quando ele tentava conter o bicho.
;Eu queria impedi-lo de atravessar a rua. Tive medo que morresse e não medi a força do chute. Não sou um monstro;, defendeu-se. O estudante chora quando fala do cachorro, mas o zelador do Bloco E da 410 Sul, Joaquim Jocelino, 42, garante ter visto Patrick arremessar Bob contra a parede da portaria e chutá-lo diversas vezes. ;Ele estava descontrolado;, lembra.
No laudo dos veterinários responsáveis pelo animal consta que a lesão é grave demais para ser causada da maneira que Patrick conta. ;Achei que ele tinha sido atropelado;, diz o veterinário Paulo Henrique Cândido, do Centro Clínico Veterinário da Asa Sul. Maíra está do lado do namorado, confirma a versão dele para a história e pretende contratar advogados para reaver a posse do cão: ;O Bob ia ser sacrificado e eu o salvei. Não vou ficar sem ele;.