Jornal Correio Braziliense

Cidades

Cresce venda de madeira ilegal

Cem carretas com toras cortadas irregularmente na Amazônia foram apreendidas em apenas três meses. Madeireiras de Brasília estão ligadas à criminosos do Pará

Brasília entrou na rota da madeira ilegal retirada da região da Amazônia. Só nos últimos três meses, cerca de 100 carretas com toras cortadas irregularmente em estados como o Pará ou Amazonas foram apreendidas no Distrito Federal. Quem compra madeira cortada sem amparo legal também comete crime ambiental. Por isso, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) vai convocar os donos de madeireiras da cidade para alertar sobre o problema. Todo material ilegal em trânsito pela cidade é apreendido e doado ou leiloado pelo governo federal.

No mês passado, o Ibama apreendeu um caminhão com 25 metros cúbicos de madeira pau-pombo, carga avaliada em R$ 18 mil. O material está guardado no Setor Militar Urbano (SMU). O controle da madeira ilegal vendida na capital federal e em outras cidades pode ter impactos importantes no controle do desmatamento da Amazônia. Além de trazer para Brasília madeira cortada sem autorização dos órgãos ambientais, muitos criminosos transportam mercadorias sem a referente documentação.

O chefe do Sistema de Documentação de Origem Florestal do Ibama-DF, José Ribamar de Lima Araújo, explica que Brasília é um dos mercados de madeira mais movimentados do país. ;A cidade está entre as cidades que mais consomem madeira no Brasil. Por isso é importante controlarmos a madeira ilegal que circula pela capital;, explica Ribamar.

Além de combater o desmatamento da Amazônia com o controle das toras que circulam em Brasília, ambientalistas também alertam para a importância de controlar o desmatamento na própria capital federal. Mais de 70% de toda a cobertura original do cerrado já foi retirada. Em Brasília, em municípios do Entorno e em estados vizinhos, a vegetação do cerrado dá espaço para construções irregulares ou para áreas de pastagem.

Cerrado sofre
O desrespeito ao meio ambiente também pode rapidamente se transformar em um problema de saúde pública. O aparecimento da hantavirose na capital federal é um exemplo disso. Os ratos, que transmitem a doença, tinham como habitat as regiões de matas. Com o desmatamento, os roedores foram buscar alimentos nas cidades e levaram com eles a transmissão do vírus da doença.

A geógrafa Mônica Veríssimo, da Fundação Sustentabilidade e Desenvolvimento, faz questão de lembrar o papel do homem nesse processo. ;O homem destruiu o cerrado e os ratos foram procurar lixo nas cidades. Foi o que aconteceu em São Sebastião. Não é só um problema ambiental, é uma questão de saúde pública;, destaca a ambientalista.

Mônica Veríssimo lembra que o cerrado já perdeu 70% de toda a cobertura vegetal original. ;O que restou do cerrado está no Parque Nacional, na Estação de Águas Emendadas, na reserva do IBGE, no Jardim Botânico e na reserva da UnB. Mas até mesmo essas áreas de proteção correm risco hoje. É preciso mudar isso, afinal a própria Constituição diz que todos devem cuidar do meio ambiente sadio;, destaca Mônica Veríssimo.
15 fiscais para todo o DF
Cadu Gomes/CB.D.A Press - 20/2/05
Cenário Amazônico: floresta destruída por madeireiros

A falta de fiscais para controlar o território do Distrito Federal e de técnicos do setor de licenciamento agrava ainda mais os problemas ambientais da capital. Hoje, o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) tem apenas 15 funcionários para fiscalizar todos os empreendimentos de Brasília e das cidades vizinhas. No setor de análise de processos, são apenas 10 pessoas para verificar todos os pedidos de licença ambiental para obras do governo, da iniciativa privada e dos 513 condomínios irregulares do Distrito Federal. Seria preciso triplicar o quadro de pessoal para que a fiscalização e o licenciamento fossem mais efetivos. Mas por problemas financeiros, o GDF suspendeu todos os concursos públicos previstos. Não há prazo para a realização de processo seletivo para aumentar o quadro de pessoal do Ibram.

O presidente do Ibram, Gustavo Souto Maior, explica que o número pequeno de funcionários dificulta muito o trabalho do instituto. ;Na área de poluição sonora, por exemplo, são apenas dois fiscais para checar denúncias e fazer autuações no Distrito Federal inteiro;, explica Gustavo. ;São quase 400 postos de gasolina, 34 usinas de asfalto, mais de 2 mil atividades agropecuárias, obras públicas, regularização de parcelamentos. É muito trabalho para pouca equipe;, justifica o presidente do Instituto Brasília Ambiental.

Além do efetivo pequeno, há ainda o problema da falta de qualificação dos técnicos. Muitos têm cargos comissionados e não fizeram concurso público. E, por isso, nem todos têm a capacitação necessária para licenciar obras e verificar possíveis crimes ambientais. ;Nós realmente temos um problema de qualificação. Precisamos de um corpo mais bem preparado, por isso é essencial a realização de concurso público;, defende Gustavo Souto Maior. ;O ideal seria triplicar a equipe, para pelo menos melhorar um pouco as nossas condições de trabalho;, acrescenta.

Para a promotora de Defesa do Meio Ambiente, Kátia Lemos, o governo deveria investir para contratar mais fiscais e capacitar as equipes que atuam no licenciamento e na fiscalização ambiental. ;É preciso fazer cursos de capacitação, já que hoje há fiscais que não passaram por concurso específico e estão atuando nos licenciamentos. Há veterinários analisando processos, por exemplo;, conta Kátia Lemos.