Jornal Correio Braziliense

Cidades

Professor espancado por ex-aluno dá adeus às salas de aula

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As palavras saem com dificuldade por causa da dor, mas o tom é decidido. ;O sentimento é de fracasso, de humilhação total. Já lutei muito, mas agora estou cansado;, resume Valério Mariano, 41 anos, 12 deles dedicados ao magistério. ;Penso em me dedicar a outra atividade, até porque sou bacharel em direito e essa é uma área mais valorizada;, completa, com pesar. Os socos e pontapés desferidos por um ex-aluno foram demais para o professor de história, que se recupera em casa da surra que o deixou desacordado por horas na tarde de quinta-feira. Para a polícia, uma integração maior entre as forças de segurança e a comunidade escolar pode evitar esse tipo de ocorrência. A agressão levou o Batalhão Escolar da Polícia Militar a patrulhar os três turnos do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 4, que fica na QNM 21/23 de Ceilândia. Tarde demais para Valério. ;É um local problemático, que precisa de policiamento. Se tivesse segurança na escola naquele momento, com certeza não teria acontecido a agressão;, avalia o educador, que ainda sente muitas dores. Mas o patrulhamento integral da escola é temporário. ;Os homens ficarão para evitar a continuidade das agressões enquanto a Polícia Civil investiga o caso;, conta o comandante do Batalhão Escolar, tenente-coronel Nelson Garcia. Para o militar, não é a deficiência no policiamento que permite a violência nas escolas. ;É uma série de acontecimentos. Temos que identificar o início dos problemas para resolvê-los. Para isso é preciso que a população nos passe informações;, completa ele, que diz nunca ter sido informado sobre conflitos entre o professor Valério e o ex-aluno que o atacou. As diferenças começaram em 2003, quando o agressor Laerte Furtado, hoje com 21 anos, foi expulso da escola por indisciplina. ;A mãe dele registrou uma ocorrência na delegacia, dizendo que eu teria batido no garoto. Mas, já no começo, as investigações mostraram que eu não havia feito nada;, diz o educador. Valério conta que, na manhã de quinta-feira, estava em sala de aula quando começou a ser agredido verbalmente por Furtado. O professor levou alguns socos antes de ver o jovem se dirigir para o estacionamento. ;Ele jogou pedras no carro de outro professor achando que era o meu e pulou o muro. Não me conformei e o persegui de carro;, narra. O educador achou Furtado poucos metros à frente. À partir desse momento, ele só lembra da transferência do Hospital Regional de Ceilândia para o Hospital de Base. ;Levei uma pancada na nuca e apaguei;, resume. A pancada, segundo testemunhas, partiu de Leonardo Alves, 19, amigo de Furtado. Os dois fugiram após as agressões e se apresentaram ontem na 15ª DP (Ceilândia). Foram autuados por lesão corporal e estão sujeitos a uma pena de três meses a um ano de cadeia, se o crime for tipificado como leve. Se o inquérito apontar para lesão corporal grave, a pena é de um a cinco anos.