Jornal Correio Braziliense

Cidades

Como o hip-hop tem salvado Ceilândia

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Um verso do grupo brasiliense de rap Câmbio Negro, entoado no início dos anos de 1990 em Ceilândia, inspirou um grupo de adolescentes moradores da cidade. A música, que dizia ;sou negão careca da Ceilândia mesmo, e daí?;, mexeu com a auto-estima dos garotos. Eles perceberam que deveriam tomar uma atitude para mudar seu destino. Na época, estavam prestes a concluir o ensino médio e não sabiam o que fazer ao deixar a escola. Não queriam ficar subempregados e menos ainda seguir o caminho das drogas e da criminalidade, como faziam muitos colegas. Pensavam que, um dia, poderiam se orgulhar de terem nascido e crescido em Ceilândia em vez de repetirem estereótipos. E foi na cultura hip-hop que o grupo encontrou um caminho. Os rapazes passaram a organizar oficinas de música e canto (rap), dança (break), discotecagem e artes plásticas (grafite) nas escolas de ensinos médio e fundamental da cidade. Ficavam dois meses em cada uma delas e envolviam os alunos com a proposta. Dessa forma, a pichação se transformou, aos poucos, em grafite e os estudantes passaram a ter um objetivo de vida. ;Queremos que o jovem veja que ele pode ter uma escolha;, afirma Sérgio Nascimento, 29 anos, um dos organizadores do movimento. Em 1997, a iniciativa virou ONG e foi batizada de Grupo Atitude. Hoje, o grupo tem uma sede, uma casa em Ceilândia Sul, equipada com estúdio de gravação e ensaio, ilha de edição, serigrafia e biblioteca. Os jovens mantêm ainda uma rádio na internet e trabalham sobre quatro pilares: incentivo à cultura, ao hip-hop, à leitura, ao esporte e à geração de renda. ;Para o jovem não ser atraído para o delito, ele tem que ser seduzido por outra coisa. Ceilândia não tem cinema ou teatro e os jovens se vêem sem escolhas à medida que vão crescendo;, diz Sérgio, que coordena o Atitude. O grupo atende cerca de 350 ceilandenses, com idades entre 10 e 24 anos.