Pivô da sucessão de escândalos que puseram fim à administração Timothy Mulholland na Universidade de Brasília (UnB), a cobertura que servia ao ex-reitor tem muito mais que lixeiras de R$ 1 mil. O apartamento 603 do Imperial Quartz, na 310 Norte, guarda eletrodomésticos e utensílios para as mais refinadas recepções. Dispõe de ambientes para o lazer e conforto das mais exigentes famílias. Conta, entre outras coisas, com área completa para churrasco e um spa, que tem piscina de água quente e sauna para 12 pessoas.
O Correio visitou o imóvel da 310 Norte na manhã desta terça-feira. Pela primeira vez, uma equipe de reportagem teve acesso aos dois pisos da cobertura. Até então, o interior do apartamento era mantido fora do alcance de máquinas fotográficas e câmeras de TV por Mulholland e seus fiéis assessores, apesar de se tratar de um bem público. A equipe do jornal entrou nos 16 cômodos dos 400 metros quadrados de construção, mobiliados e decorados com R$ 470 mil. Verba pública gasta dessa forma com autorização do Conselho de Administração da UnB, mas que deveria ser destinada a pesquisas científicas, segundo o Ministério Público.
Fechado desde 12 de fevereiro, quando Mulholland, sob pressão, o deixou, o apartamento 603 guarda todos os artigos de luxo comprados com dinheiro do Fundo de Apoio Institucional (FAI), abastecido pela Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), ligada à UnB. As lixeiras que somam R$ 3 mil, o saca-rolhas de R$ 859, os dois faqueiros de R$ 4 mil, entre outros itens (veja lista ao lado), estão em caixas, dentro de armários, também novos e modernos. Por outro lado, as cinco telas artísticas que custaram R$ 21,6 mil foram tiradas do lugar. Estão no chão, apoiadas em paredes, sem qualquer proteção. Outras duas continuam penduradas.
As decorações das quatro suítes também foram desfeitas. Pequenas obras de arte estão nos armários onde antes ficavam as roupas e sapatos de Mulholland e da mulher dele. As camas, todas do tipo king size (maiores e mais altas), foram desfeitas. Estão deitadas, nos cantos dos cômodos. Duas outras suítes confirmam o que uma ex-diretora da UnB disse em depoimento ao MP: elas foram decoradas e mobiliadas para receber o filho e a filha de Mulholland, que não moram com os pais. Uma das suítes tem papel de parede e banheiro em tons femininos. A outra, tem decoração com tema masculino. O ex-reitor afirmou em depoimentos e notas oficiais que o imóvel havia sido reformado sem qualquer toque pessoal, com o intuito de receber autoridades e reuniões de trabalho.