Jornal Correio Braziliense

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Comunidade prestigia Eixão

População diz sim ao espaço de lazer e discorda da possibilidade de perder a opção. Na Epia, que, segundo o governo, ficaria engarrafada no domingo, o tráfego foi tranqüilo

Foi um domingo de sol e Eixão do Lazer. Desses que fazem o brasiliense olhar pela janela, colocar o tênis e dar uma caminhada, pedalar, tomar água de coco às margens do Eixo Rodoviário. Pela manhã, as faixas da pista se encheram de crianças, adultos e idosos. À tarde, o movimento foi menor, mas muitos ainda foram à rodovia que corta o Plano Piloto para garantir algo precioso: qualidade de vida. Qualidade que a comunidade faz questão de defender. Quem usufruiu do Eixão do Lazer neste domingo (18/05) quer vê-lo mantido. Quer vê-lo aberto aos pedestres e fechado aos carros até as 18h.

Na última semana, o Governo do Distrito Federal ameaçou acabar com o lazer dos brasilienses aos domingos e feriados. A justificativa era que as obras na BR-450, a Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), provocam engarrafamentos. Segundo o secretário de Transportes, Alberto Fraga, com o Eixão fechado aos veículos, o transtorno para o motorista aumenta ainda mais, principalmente na parte da tarde. Fraga chegou a estipular a data de ontem como o último dia em que a pista seria dos pedestres até as 18h. A partir do próximo fim de semana, o Eixão do Lazer funcionaria das 8h às 12h.

O governador José Roberto Arruda desautorizou o secretário, garantindo que qualquer mudança só ocorreria após consulta à população. Com o recuo do GDF, a redução do horário também acabou adiada, mas o próprio secretário Alberto Fraga voltou a defender no último sábado que o Eixão do Lazer será desnecessário quando forem concluídas as obras de revitalização das passagens subterrâneas da pista, a ciclovia e a calçada de pedestres ao longo da rodovia.

Pois bem, o Correio esteve no Eixão e na Epia ontem pela manhã e à tarde. O resultado da apuração desbanca a tese de que abrir o Eixão aos domingos para os automóveis deixaria o trânsito mais livre na pista em obras. O que se viu foi um Eixão cheio na período matutino e uma Epia vazia. Horas após o almoço, o movimento ficou menor no Eixo Rodoviário, mas a BR-450 também não registrou congestionamentos.

Muitos levantaram cedo para aproveitar os raios mais fracos do sol. Às 9h, as seis pistas nos dois sentidos, além da faixa central do Eixão, já reuniam pessoas caminhando, pedalando, passeando com os filhos, com os cães. Ninguém se esbarrava tamanha a grandeza do espaço. Há quem justifique que prefere o Eixão ao Parque da Cidade, por exemplo, justamente porque dá para correr ou andar sem medo de ser atropelado por uma bicicleta.

O servidor público Marcelo de França, 41 anos, mora na 212 Norte. Todos os domingos passeia por ali, das 9h ao meio-dia. ;Para mim é uma terapia. É bom demais;, comenta. Deficiente físico, ele precisa da cadeira de rodas para se locomover. Dirige, mas acha mais confortável ir ao Eixão do que tirar o carro da garagem. ;Temos que pensar na contribuição ecológica. Para cá, as pessoas vêm caminhando. Se o Eixão for fechado, mais carros terão de estar nas ruas para as pessoas se deslocarem;, comentou.

Já Sebastião Aquino, 58 anos, e a mulher, Marisa, 57, há mais de uma década usufruem do lazer na pista próxima à quadra deles, na 104 Sul. Para eles, a proximidade é um dos quesitos que os fazem praticar exercícios no Eixão. Ele corre e caminha. Ela pedala. ;Minha esposa anda de bicicleta por recomendação médica e aqui é bem mais livre do que o Parque. Acho um absurdo acabarem com o nosso lazer. Não justifica porque não vai mudar nada no trânsito;, criticou Sebastião, apontando para os Eixinhos com pouco movimento e trânsito completamente livre às 11h.

Enquanto isso ;
A Epia aos domingos nem de longe parece com aquela rodovia caótica ; passagem obrigatória de veículos vindos de várias partes do Distrito Federal e do Entorno ; entre segunda e sexta-feira. O fluxo de carros cai tanto que tem gente que até passeia de bicicleta na via em reforma. Uma cena rara durante a semana, quando passam, segundo o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), 72 mil carros somente no trecho entre a Estação Shopping do metrô e o Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA).

Foi entre tais pontos que o casal Stanley da Silva, 29, e Ellen Cristine Cardoso, 21, pedalava tranqüilamente ontem de manhã. Moradores do Guará, eles trocaram o Eixão pela Epia, mas estão contrariados com a possibilidade de o Eixão do Lazer acabar. ;Trabalho com muita gente de fora. Os turistas quando chegam aqui ficam encantados com a rodovia destinada ao esporte;, frisou Stanley, funcionário da Câmara dos Deputados.

Os motoristas foram unânimes em discordar da alegação de que o Eixão fechado atrapalha o tráfego na Epia. ;Passo aqui (Epia, próximo à Água Mineral) todos os domingos e nunca peguei engarrafamento;, garantiu o policial aposentado Ruy Vieira, 74, que mora na Granja do Torto. ;Precisa ver isso aqui é durante a semana. Hoje está maravilhoso;, completou o mecânico Aílton Miguel, 40, morador de Taguatinga, à tarde, em frente ao ParkShopping.