Eles vão subir as escadas do avião, apertar os cintos com ansiedade e sentir o velho frio na barriga. Aproximadamente 24 horas depois, a dupla de jovens terá feito um percurso de quase 19 mil quilômetros e abrirá os olhos para um novo mundo, o Japão, a conhecida Terra do Sol Nascente, que assim é chamada por sua localização, no extremo leste da Ásia. Por quatro dias, Gustavo Tozetti Matins, 14, e Thaymont Barbosa dos Santos, 13, estudantes de escolas públicas de Taguatinga, serão os embaixadores brasilienses do clima na Conferência da Juventude para o Meio Ambiente, de 21 a 24 de maio, em Kobe.
Na bagagem de ida eles transportaram um excelente nível acadêmico, bom comportamento e perfil de uma juventuade que se preocupa com a vida na Terra e que luta contra a destruição do Planeta. Na bagagem de volta, histórias da primeira viagem de avião, novos conhecimentos, a saudade dos amigos que farão nesse período.
Jovens de 20 países estarão reunidos em Kobe para falar sobre mudanças climáticas, devastação florestal, desperdício de água, poluição por emissão de gases e outros problemas ambientais. Os estudantes Gustavo e Thaymont serão acompanhados pela professora de inglês Isabel Cristina de Araújo Teixeira, 34, que faz parte de uma rede internacional de educação, a Iearn (International Education and Resource Network) do Japão, com sucursais nos quatro cantos do planeta.
Eles embarcam amanhã para um encontro que reunirá 230 pessoas, entre alunos e professores. A oportunidade para os estudantes veio de uma parceria do Centro Interescolar de Línguas de Taguatinga (Cilt) onde eles estudam (uma escola da rede de ensino público do Distrito Federal que oferece cursos de línguas estrangeiras a alunos que não têm a disciplina no currículo) com a Iearn, organização não-governamental de recursos educacionais, presente em mais de 100 países e em mais de 20 mil escolas em todo o mundo, com reconhecida tradição na área ambiental.
Conscientes e alertas
Na conferência, os jovens irão discutir questões ambientais e compartilhar sentimentos e idéias sobre como a terra deve ser protegida, preservando as diferenças de cada ambiente e cultura. Para tanto, cada estudante irá apresentar os problemas ambientais de seu país para o restante do grupo.
No segundo dia do evento, será a vez da dupla de estudantes brasilienses mostrar o que depreendem da experiência ambiental brasileira. ;Vamos falar das queimadas, do tráfico de animais e das enchentes. Brasil não é apenas violência, dengue e carnaval. Temos uma natureza a ser preservada. Você sabia que de cada 10 bichos roubados da Amazônia, apenas um sobrevive?;, alerta Gustavo.
A declaração será entregue aos chefes de estado e ministros de Meio Ambiente que também estarão reunidos em Kobe durante a Conferência Internacional de Meio Ambiente G8 5 ; grupo que reúne sete potências mundiais (Estados Unidos, Japão, Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Canadá), a Rússia e cinco países em desenvolvimento: Brasil, China, Índia, México e África do Sul.
Ao final da conferência, um documento será produzido pelos jovens com mensagens e propostas para proteger a natureza e reduzir os efeitos da emissão de gases no planeta, com ênfase nas mudanças climáticas causadas pelos danos na camada de ozônio. A escassez de água na Terra, os furacões, terremotos, e outros desastres ambientais, a maioria com reflexos na incerteza do futuro do homem, serão esmiuçados no documento.
Educação e orgulho
Durante o mês de abril, até ontem, os colegas se reuniram sempre às sextas para trocar informações, sonhar com a viagem e ler sobre o tema. ;As pessoas falam tanto em futuro, mas não pensam no futuro do planeta. Só no delas;, acrescenta Thaymont. Os dois também darão o exemplo que vem de casa. Na de Gustavo, é ele quem lava a louça. ;E sempre que estou na pia não paro de pensar: tenho que economizar, tenho que economizar a água;.
Thaymont aprendeu com o pai, Ivan Ferreira dos Santos, 46, a economizar água e a respeitar o meio ambiente. ;A educação dentro de casa é fundamental. Porque, além de não termos condições financeiras para gastar demais, se eu não mostrar que é importante reduzir o consumo de água, economizar a energia, daqui a 20 anos o que sobrará para meu filho?;, indaga Ivan.
Para Ivan, a conquista de Thaymont é uma realização. ;Nós lutamos para que nossos filhos se formem. E essa viagem me emociona. É a recompensa da minha luta e da dele. Será positivo para sua vida pessoal e profissional.;
A professora Isabel Cristina também se sente orgulhosa e se emociona: ;Eu me orgulho porque eu trabalhei muito para conseguir estudar e ajudar meus alunos a fazer viagens como essa. Agora, tenho a oportunidade de acompanhá-los também nessa vitória que é deles;.
A dupla de meninos já se conhecia do Cilt. Mas o que eles têm mesmo em comum é a paixão pela leitura e a preocupação com problemas ecológicos. Gustavo chegou a perguntar à mãe: ;Não existe medalha para quem gosta de ler?; . Thaymont é capaz de ler um livro de mil páginas em poucos dias. A intimidade com a leitura levou os meninos ao bom comportamento e serem mais sensíveis a problemas da natureza. Passaram a colecionar boas notas e ampliaram suas visões de mundo. Empolgado, Gustavo declara: ;Vamos viver um sonho;. Antes, vão festejar os 14 anos de Thaymont dentro do avião. O garoto fará aniversário em 18 de maio. No dia seguinte, Gustavo ligará para o pai, aqui no Brasil. ;É o aniversário dele também;, sorri o menino.
Países participantes
França, Itália, Reino Unido, Alemanha, E.U.A., Canadá, Rússia, Brasil, Índia, China, África do Sul, México, Bangladesh, Indonésia, Malásia, Nepal, Mongólia, Austrália, Quênia, Irã, Taiwan, Japão
Centro dos debates
A 72km de Osaka, Kobe abriga um dos mais importantes portos comerciais do mundo. Aberto em 1868, a partir dessa época os negócios marítmos passaram a crescer e com eles a cidade, que atualmente abriga 1,5 milhões de habitantes. Kobe foi uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2002.