Jornal Correio Braziliense

Cidades

Ponto a ponto: Roberto Aguiar quer uma UnB sem luxo

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Roberto Aguiar comenta questões relacionadas à Universidade de Brasília (UnB) e à sua gestão temporária na instituição.

Posse


Quando tomei posse, a primeira coisa que decidi fazer foi conversar com os estudantes (que ocupavam a Reitoria). Havia um clima tenso, de desconfiança. Queriam que eu subisse com segurança reforçada. Dispensei os seguranças. Eu queria dialogar com os estudantes, saber os anseios deles. Isso é essencial na universidade. Precisamos descomprimir a universidade. Ela não tem dono. É a sociedade que a mantém.

Feudos


Logo que assumi, anunciei a abertura das contas e uma auditoria. Vimos pessoas correndo com laptops nas mãos, como se estivessem escondendo algo. Encontramos problemas estruturais muito sérios. Todos têm que entender que não estamos aqui para condenar, perseguir. Mas precisamos organizar a casa. A universidade é toda feudalizada. Cada um faz seu trabalho fechado. Não havia comunicação, transparência. Temos que acabar com isso. As coisas precisam ser discutidas entre todos. Agora, temos uma comissão. Todos os dias fazemos uma reunião interessante, porque todos apresentam propostas de trabalho diferentes.

Irregularidades


Na universidade não havia limites entre o público e o privado. As fundações eram exemplo disso. Elas serviam, muitas vezes, para negociatas. Havia ainda outras instituições com muito poder, um poder paralelo, mesmo sem existir formalmente, como a agência da Editora (que executava contratos firmados pela Fundação Universidade de Brasília, a FUB), que fazia o que queria, sem prestar contas de nada. Não podemos extinguir algo que nunca existiu legalmente. Mas executava projetos, recebia dinheiro público. O CPD (Centro de Informática), por sua vez, era uma caixa-preta, um guardião de todas essas irregularidades. Por isso, a operação dessa semana (que a Justiça Federal mandou suspender as atividades do CPD para policiais federais copiarem os dados gravados nos computadores).

Ameaças


Tenho recebido ameaças. E não é por telefone, velada. São de pessoas que chegam na minha cara e dizem assim: ;Você vai amanhecer com a boca cheia de formiga.; Isso é aqui, dentro do câmpus, no corredor da universidade. Não tenho medo dessas pessoas. Ignoro-as. Não são professores, acadêmicos, são os negociantes, os maus negociantes, que vêm perdendo espaço e dinheiro. Por que vou ter medo de gente assim? É a academia enfrentando os negociantes. Já subi morro dominado por traficantes (quando era secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro).

Fundações


É um mito que a UnB não sobrevive sem os convênios das fundações de apoio. Isso justifica uma prática, justifica muita coisa errada que vinha ocorrendo. É uma mentira, uma contradição. Com as fundações nós dávamos mais que recebíamos. Agora, a FUB só vai trabalhar com dinheiro da própria FUB. A fundação que não se enquadrar nas regras, nas novas determinações do governo federal, vão ser extintas.

Contratos revistos


Queremos rever os contratos das fundações. Queremos que todos fiquem com a FUB. Há pessoas qualificadas que foram enganadas, prejudicadas por algumas fundações, pois acreditavam nelas. No meio de coisas geniais, há os picaretas.

Reuni e expansão


A UnB vai continuar sua expansão. Quanto ao Reuni, ao contrato de R$ 30 milhões com a Finatec que está suspenso, queremos que esse contrato seja refeito, seja firmado direto com a universidade. Por que pagar 5% de taxa de administração à Finatec? Por que o valor dessa taxa não pode ficar com a universidade?

Intervenção na Finatec


Essa intervenção precisa ser revista, ela precisa ser mais eficaz. Simplesmente colocaram um interventor lá, mas as coisas não andam. Não há contatos conosco nem com o Ministério Público. Não sabemos o que está sendo feito. E, enquanto isso, há R$ 50 milhões (de convênios) lá.

Investigação interna


Todas as instituições da universidade estão sob investigação. Não são apenas as fundações de apoio. Esse trabalho está sendo feito por auditores da CGU, de forma discreta, mas que vai dar resultado concreto. A cada dia descobrimos uma coisa nova, uma nova irregularidade. Tudo vai ser apurado. Vamos tomar as medidas administrativas. As medidas judiciais ficam a cargo do Ministério Público.

Apartamentos funcionais


Será que esses apartamentos luxuosos são necessários e rentáveis para a universidade? Creio que não. Mercadologicamente, apartamento menores são mais atraentes, mais rentáveis. Para que a universidade precisa desses imóveis de luxo? Nossa idéia é vender, ou melhor, prefiro a palavra permutar esses apartamentos. Defendo isso e vou propor para que a idéia seja aprovada pelo Conselho Superior. Podemos trocar um apartamento de R$ 6 milhões por seis, oito de três ou quatro quartos e aumentar a arrecadação com aluguéis. Sou contra apartamento para reitor. O Cristóvam (senador Cristovam Buarque, do PDT-DF) havia acabado com essa história de apartamentos funcionais, quando assumiu a reitoria. Não sei por que eles (gestão de Timothy) voltaram com isso.

Eleição
Não tenho grupo, não sou reitorável. Sou um árbitro aqui dentro. Tenho data para sair. Por isso tenho que agir, e rápido. Nossa missão é preparar uma eleição que não seja apaixonada, mas que olhe para o futuro, para o melhor caminho da universidade. Tenho sorte de ter o apoio de pessoas que abandonaram seus projetos permanentes por uma causa temporária.

Esperança


Estamos em um momento de grandeza. Precisamos dar exemplo, quebrar vícios que aqui vinham se perpetuando. Isso aqui parecia uma empresa privada, só que mal administrada. Também há muitas rixas, muitos ódios que vêm se perpetuando. Mas tem muita gente nos ajudando, que tem esperança em um futuro melhor. E isso é mais que possível. A UnB é maior que todos nós.