Numa decisão pouco habitual, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) emitiu na tarde desta quinta-feira (15/05) mandado de prisão por tentativa de homicídio doloso contra o motorista da Câmara dos Deputados Felipe Gonçalves de Sousa Cruz, 47 anos. O servidor público é apontado como o causador do grave acidente ocorrido domingo passado na entrada da Ponte JK. Além dele, quatro pessoas de uma mesma família ficaram feridas. Entre as vítimas, duas crianças: de 3 e 11 anos. O menino mais velho continua hospitalizado, mas não corre risco de morrer. Felipe está internado no Hospital de Base, agora sob escolta policial.
O juiz da Vara do Tribunal do Júri de Brasília Germano Oliveira Henrique de Holanda se baseou no laudo do Instituto Médico Legal (IML) para tomar a decisão. O exame comprovou que Felipe havia ingerido bebida alcoólica e usado maconha. A análise sangüínea do motorista do Pálio branco (placa JGZ 2476-DF) foi realizada seis horas depois de ele ter ingerido as duas substâncias, afirmou a delegada-chefe da 1; DP (Asa Sul), Martha Vargas. O resultado saiu no mesmo dia e a polícia e o Ministério Público ingressaram com o pedido de prisão do acusado. A resposta só saiu ontem.
Para Martha Vargas, ao ingerir as duas substância e dirigir, Felipe assumiu o risco de cometer o acidente. Daí ele ser indiciado por tentativa de homicídio doloso. O acusado continua internado no Hospital de Base, onde se recupera de pequenas lesões sofridas na colisão do carro dele com o Logan prata (placa JHE 6338-DF). De acordo com o boletim médico, ele está fora de perigo e deverá ter alta daqui a três dias. Até lá, ficará sob escolta policial durante 24 horas por dia. A polícia não revelou quantos agentes fazem a segurança do preso. Mas o Correio apurou que ele é acompanhado desde ontem por dois policiais que se revezam em turnos de 24 horas.
Reincidente
Não é a primeira vez que Felipe se envolve em acidente. No ano passado, o motorista da Câmara dos Deputados bateu o carro oficial que dirigia. Mas, daquela vez, não houve vítimas. O servidor público também já foi detido pela polícia por uso de droga. ;Por todo esse histórico, a gente não podia abrir mão de pedir ao Poder Judiciário a prisão dele;, explicou Martha Vargas.
Assim que receber alta, Felipe será conduzido à 1; DP, onde prestará depoimento. Se condenado, o servidor público pode pegar de três a 10 anos de prisão para cada vítima do acidente. Além dessa punição, Felipe também terá a carteira nacional de habilitação suspensa e pegará multa de R$ 957, segundo o gerente de Policiamento e Fiscalização de Trânsito, Silvaim Fonseca.
;A mentalidade dos motoristas deve mudar. Eu não quero um dia ser vítima da irresponsabilidade de motoristas imprudentes;, frisou a delegada Martha Vargas, exibindo o mandado. Quem também ficou satisfeita com a decisão da Justiça foi a família do engenheiro agrônomo André Vicente de Sanches, 38, motorista do Logan. ;A Justiça fez o papel dela. Ele tem de pagar pelo que fez;, disse Leonardo Sanches, 41, irmão de André.
Na tarde de ontem, a família decidiu transferir Jonas Pereira de Magalhães Soares, 11, para um hospital particular. O enteado de André estava internado no Hospital de Base. Ele teve a vascularização do intestino comprometida por causa do impacto da batida. A criança perdeu 80cm do órgão e o apêndice. Além dos dois, estavam no Logan a mulher de André, Laura Pereira de Magalhães Gomes Sanches, 37, e o filho do casal, Felipe Pereira de Magalhães Sanches, 3.
Os Sanches voltavam de um almoço de família para comemorar o Dia das Mães, por volta das 15h30 do dia 11. Eles seguiam para casa em um condomínio na QI 23 do Lago Sul quando ocorreu o acidente. O Logan onde os quatro estavam se dirigia para a Ponte JK, no sentido Plano Piloto, quando foi atingido pelo Palio de Felipe. Testemunhas contaram que o último carro vinha no sentido contrário em alta velocidade, ultrapassando outros veículos em ziguezague, quando perdeu o controle e invadiu o canteiro que separa as duas pistas.