Um dos casos policiais de maior comoção da história recente de Brasília completa nesta quarta-feira (14/05) um ano cercado de expectativas. Desde 14 de maio de 2007, quando a estudante Isabela Tainara Faria, 14 anos, foi seqüestrada, violentada e morta, a tragédia nunca esteve tão perto de uma definição. Há uma semana, a polícia apresentou o único acusado pelo crime: o ex-gari Michael Davi Ezequiel dos Santos, 21. E cinco dias depois, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal acatou a denúncia contra ele. A previsão é de que a sentença saia até o fim do ano.
Michael será julgado pela 6ª Vara Criminal de Brasília por extorsão mediante seqüestro, seguido de estupro, morte e ocultação de cadáver. Escapou do júri popular porque polícia, Ministério Público e Justiça entenderam que o crime teve motivação financeira e inicialmente não havia a intenção de tirar a vida da menina. O depoimento do réu será realizado em 21 de maio. E em seguida serão ouvidas as testemunhas de defesa e de acusação.
Apesar de o caso ter chegado à Justiça, permanece parte do mistério que o acompanha desde o começo. O ex-gari confessou duas vezes a participação no crime. Mas escondeu detalhes. Não disse como levou a menina do Sudoeste a Samambaia, local onde o corpo foi encontrado. No dia de sua apresentação à imprensa, o acusado alegou ter sido pressionado a assumir a autoria. Faltam provas materiais da participação dele na violência sexual e no assassinato, o que deixa imprevisível o julgamento. Assim, as investigações continuam. ;Se surgirem elementos que apontem para a existência de comparsas, por exemplo, será tudo apurado;, disse o delegado que presidiu o inquérito, Eucimar Loli.
Os familiares de Isabela Tainara reagiram à conclusão do inquérito com alívio. Mas reclamaram das perguntas que ficaram sem respostas. Os parentes mais próximos não divulgaram se farão alguma homenagem à memória da menina. Já a diretoria da escola onde ela cursava a 8ª série do ensino fundamental, o Ciman, na Área Octogonal Sul, confirmou que evitará atos para lembrar a tragédia. Justifica que não há motivo para rememorar uma história marcada por tanta tristeza.
O CRIME
Como Isabela Tainara desapareceu?
A estudante de 14 anos sofreu um seqüestro na saída do curso de inglês nas quadras 304/504 do Sudoeste. A menina percorria os 500m que separam o local do apartamento da família, na 305.
Que dia ocorreu a morte?
Em 14 de maio de 2007. A garota foi levada a Samambaia, onde sofreu abusos e acabou assassinada.
Qual o motivo do crime?
Financeiro. De acordo com a polícia, o acusado acumulava dívidas, conhecia o Sudoeste por ter trabalhado em mutirões de limpeza e seguiu até o bairro para assaltar ou seqüestrar alguém. Encontrou Isabela.
Quem a matou?
O ex-gari Michael Davi Ezequiel dos Santos, 21 anos, segundo a polícia.
A INVESTIGAÇÃO
Quanto tempo durou o caso?
Onze meses e três semanas. A polícia concluiu o inquérito na última quarta-feira, uma semana antes de completar um ano da morte da menina.
Quais os principais elementos do caso?
Duas confissões gravadas, interceptações telefônicas e testemunhas. O ex-gari deu detalhes que, segundo a polícia, apenas quem participou do crime saberia.
Há provas materiais?
Laudos periciais não encontraram vestígios do acusado nos restos mortais da garota. Também sumiram o material escolar, o celular e parte das roupas que ela usava no dia do seqüestro.
A polícia encerrou as investigações?
A Coordenação de Crimes contra a Vida (Corvida) continuará a apurar novas informações.
OS SUSPEITOS
Quem é o principal acusado do crime?
O único acusado do seqüestro, abuso sexual e morte da garota é o ex-gari Michael dos Santos.
Há mais pessoas envolvidas?
O ex-gari disse que contou com a ajuda de um ou dois criminosos. Forneceu nomes, apelidos e endereços. Mas todas as informações se revelaram falsas.
Houve familiares entre os suspeitos?
A polícia cumpriu mandados em bens de parentes. Nada descobriu.
Quem mais soube da tragédia?
Duas garotas de Samambaia, entre elas a namorada de Michael, sabiam do envolvimento dele. O ex-gari desabafou com elas assim que a polícia localizou os restos mortais da menina, 45 dias após o crime.
A JUSTIÇA
De que crime o réu é acusado?
Extorsão mediante seqüestro, seguido de estupro, morte e ocultação de cadáver.
Onde será o julgamento?
O ex-gari escapou do júri popular. Será julgado pela 6ª Vara Criminal de Brasília.
Quanto tempo deve durar o julgamento?
Até um ano. Casos julgados na Justiça comum tendem a ser mais ágeis do que os do Tribunal do Júri.
Qual é a pena máxima para o crime?
Até 43 anos de prisão em regime fechado.