Jornal Correio Braziliense

Cidades

Índios acampam na sede da Funai

Fundação Nacional do Índio (Funai) restringe o pagamento de diárias nas pensões da W3. Corredores da instituição transformou-se em acampamento para pelo menos 30 índios da etnia Xavante.

A sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) transformou-se em acampamento para pelo menos 30 índios da etnia Xavante ; 10 deles crianças com menos de 10 anos de idade. Nos corredores do andar térreo e na garagem do prédio, famílias improvisam dormitórios usando colchonetes e pedaços de papelão em vez de camas. Mudas de roupa estão penduradas na área externa e a higiene pessoal dos índios é feita em banheiros que também servem aos funcionários.

De acordo com os índios acampados, a situação tem se tornado comum porque a Funai restringiu o pagamento de diárias nas pensões da W3. ;É muito difícil conseguir uma viagem hoje em dia. E não estamos aqui por vontade. Mas, para reivindicar;, afirma o cacique Renato Tsiwaradza, 59 anos, que veio do Mato Grosso com a esposa e o filho de 4 anos. Renato está temporariamente alojado na garagem. Ele tenta uma audiência com a direção da Funai para pedir um carro. ;Vivemos longe da cidade. Precisamos de um carro para transportar doentes;, reclama.

Dionísio ;dzô, 34 a mulher, Dafrosa, 35, e a filha Lurdes, 7, vieram buscar tratamento médico para a menina, que é deficiente física. Os três poderiam ter se hospedado na chácara da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), próximo ao Núcleo Bandeirante. Mas Dionísio preferiu ficar mais perto da cidade por conta do acesso aos hospitais. ;Vamos nos arranjar. Tem mais gente da nossa família aqui.;

Também xavante, a índia Beatri, 30, está acampada com quatro crianças de 6, 4, 3 e 2 anos, no térreo. Com pouco domínio sobre o português, Beatri informou que os cinco dormem no chão desde 29 de abril.

Abraão Tsibupa, outro xavante, diz que só sai do local quando for recebido pelo presidente da Funai. Segundo ele, há cerca de um ano, a Funai prometeu que em 60 dias atenderia a reivindicação de que as aldeias passem a ser administrada pelos próprios índios, mas até agora nada foi feito.

Por conta própria
Responsável pela política assistencial à população indígena, Irânia Marques afirmou que não há como a Funai resolver a situação do grupo. Segundo ela, os índios não tiveram a viagem e a hospedagem custeadas porque não atenderam as exigências da portaria n; 1096/2004, que disciplina as viagens à unidade sede. ;Eles vieram por conta própria. Não podemos atendê-los sem termos nos planejado;, explica. A Funai oferece alimentação para os acampados e não tem intenção de expulsá-los. ;Eles estão exercendo o direito deles de ir e vir.;

Para diminuir a imigração à sede, a Funai planeja aumentar o atendimento assistencial nas administrações regionais, que ficam mais perto das aldeias. ;O ideal é tentar resolver os problemas de natureza assistencial nas administrações regionais. Achamos que a portaria ajudaria nisso, mas, vimos que, mesmo sem dinheiro, os índios continuam vindo para cá;, conta Irânia Marques.