Jornal Correio Braziliense

Cidades

Um milhão de multas em 2007

Punições aplicadas pelo Detran do DF aos motoristas infratores não resultaram em melhoria dos índices da violência no trânsito

Mais de um milhão de multas foram aplicadas no Distrito Federal em 2007. A punição aos motoristas infratores e as políticas governamentais voltadas para a educação do motorista, entretanto, não significaram melhoria nos índices de violência no trânsito. Pelo contrário. Só no ano passado, 422 pessoas perderam a vida nas ruas do DF ; foi o maior saldo de acidentes fatais registrado desde 2003, quando 470 pessoas morreram vítimas de colisões e atropelamentos. De acordo com dados do Departamento de Trânsito (Detran), de 1996 a 2007, mais de 5 mil brasilienses morreram vítimas do trânsito. Neste ano, só em janeiro ocorreram 30 mortes. O diretor-geral do Detran-DF, Délio Cardoso, atribui o elevado número de acidentes fatais à redução no valor das multas, fixada em 2002, pelo Conselho Nacional de Trânsito. Uma infração de excesso de velocidade (até 20% acima do limite permitido na via) custa, atualmente, R$ 85,13. "Esse erro já foi percebido pelo governo federal. A Medida Provisória que proíbe a venda de bebidas alcoólicas nas rodovias, aliada à correção dos valores da multa, vai determinar a correção do erro cometido pelo governo", sugere Délio. "No momento em que tivermos o aumento do valor real da multa aliado à proibição da venda de álcool vamos experimentar uma significativa redução no número de acidentes", completa. Apesar de não citar dados específicos, o diretor-geral do Detran afirma que os motoristas homens na faixa etária de 19 a 28 anos respondem pela maior incidência de multas e acidentes com vítimas no DF. "Em 60% dos casos, eles estão alcoolizados", garante. Das um milhão e nove mil multas registradas na capital federal em 2007, 693 mil (68%) são de excesso de velocidade. Foram aplicadas também 85.134 (8,4%) infrações de estacionamento irregular e 77.919 (7,7%) de avanço de semáforo. Pardais Questionado sobre a real eficiência doa fiscalização eletrônica na redução do número de acidentes, Délio Cardoso defende, embora a quantidade de desastres tenha aumentado, que os radares são fundamentais. Para ele, o equipamento tem uma função extremamente importante como método educador e de controle de abusos. "O que não se pode, é usar o pardal como arapuca ou pegadinha, de maneira a iludir o motorista bem intencionado", avalia. A função dos pardais, porém, chegou a sua estagnação, na opinião do diretor. Délio afirma que também é preciso investir na chamada "fiscalização presencial". "(É necessário) levar o agente de trânsito a rua, de maneira que se evite esse tipo de infração cometida no intervalo entre os pardais". Embora já tenha sentido no bolso o peso das multas, o consultor de vendas Gustavo Silveira, 26 anos, que já foi um crítico dos pardais, defende a fiscalização eletrônica. "A violência no trânsito está muito grande. É preciso ter cada vez mais pardal. Só assim os motoristas deixarão de abusar do excesso de velocidade", considera. Silveira lembra que gastou quase R$ 5 mil em multas nos últimos anos. Aumento na frota O aumento na frota de veículos do Distrito Federal preocupa o Detran. Atualmente, 986.768 carros, motos, caminhonetes e caminhões estão cadastrados no Distrito Federal. Além desse número de veículos, automóveis do Entorno também trafegam diariamente pelas ruas de Brasília. A quantidade de condutores habilitados também impressiona: são 1 milhão e 69 mil pessoas com Carteira Nacional de Habilitação (CNH) no DF. Segundo Délio Cardoso, as ruas da cidade ganham 4 mil novos motoristas a cada mês. Na visão do diretor-geral do Detran, os novos habilitados não têm sido bem formados pelas auto-escolas. O instrutor de auto-escola Soel dos Santos concorda. Para ele, deveria haver mais tempo para qualificação e treinos dos futuros condutores. Ele estima que 90% dos candidatos que passam nos testes de direção do Detran não têm condições de encarar o trânsito da cidade. "Deveria haver mais rigor na avaliação do Detran", entende. A instrutora de auto-escola Cátia Ferreira analisa que os "recém aprovados" motoristas sabem conduzir um veículo, mas na hora de encarar o trânsito do dia-a-dia se complicam. Segundo ela, os jovens condutores só aprender a dirigir, de fato, no dia-a-dia. Cátia destaca que, nessa fase inicial de CNH, a pessoa ainda tem dúvidas sobre como respeitar as sinalizações e encarar momentos de fluxos mais intensos.