O início da década de 1980 foi emblemático na vida e na carreira de Renato Russo. Principalmente o ano de 1982. O Aborto Elétrico estava desfeito e ele encarava uma performance mais acústica com o projeto Trovador Solitário, no qual personificava uma figura folk a la Bob Dylan. A Legião Urbana ainda estava por nascer.
A versatilidade musical não deixou de pautá-lo, mas, por um instante, Renato decidiu se lançar sobre outra latente paixão: o teatro. Debruçou-se sobre a máquina e escreveu A verdadeira desorganização do desespero. Talvez o primeiro trabalho a contar com a sua assinatura artística. Manfredini virou Russo.
A peça nunca foi montada. Raras cópias foram entregues a amigos próximos. No decorrer dos anos, acabou esquecida. Renato nunca fez menção ao texto. Os amigos que a receberam largaram-na em um porão. Por ali ficou. Três décadas depois, o Correio encontrou um antigo companheiro de Renato e, com ele, uma cópia da peça, inédita para o grande público e tida como o único material autoral desconhecido. Há rumores de alguns desenhos que nunca vieram à tona.
Montagem
O texto ; amálgama de teatro do absurdo, com o mito grego de Prometeu e elementos que vão de Pirandello a Adolfo Caminha ; pode ter sido resultado de um trabalho encomendado pela professora Maria Coeli. ;Quando li a reportagem no Correio sobre a peça, fiquei com a nítida impressão de que fora escrita para a matéria que lecionava;, revelou.
O desejo cênico de Renato Russo, de ver a peça montada, deverá ser atendido no curso dos próximos anos. O filho do cantor, Giuliano, e a irmã Carmem demonstraram interesse em levar A verdadeira desorganização do desespero aos palcos. O projeto mal começou. A única certeza é o local de estreia: Brasília.