Segundo o presidente do conselho da organização não governamental Associação Mico-Leão-Dourado e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Carlos Ramon Ruiz, com a duplicação da BR-101, feita recentemente pela concessionária que administra a via, a Reserva de Poço das Antas ficou completamente isolada do restante da Mata Atlântica.
As passagens subterrâneas, que existem sob a rodovia, não funcionam para o trânsito de micos-leões.
Com isso, a população de micos-leões da reserva perderam a possibilidade de se comunicar e se misturar com outros animais da mesma espécie que vivem do outro lado da rodovia. O resultado é a pouca variabilidade genética da população futura.
“Se ficarem isolados, será difícil manter essa população viável eternamente. Teríamos que ficar fazendo manejos, tirando e colocando animais [de outras localidades] dentro da reserva”, explica Ruiz.
A prova de que uma população isolada e sem diversidade genética tem problemas para se manter viável em longo prazo foi um surto de febre amarela, ocorrido em 2016 no estado do Rio. Com a doença, a população de micos de Poço das Antas foi dizimada, passando de 300 indivíduos, para cerca de 30 a 40, de acordo com Ruiz. Para repovoar o local, foi necessário trazer animais de outros locais, depois do surto.
Segundo o pesquisador, os micos devem demorar alguns anos até começar a usar o viaduto. “Se esse plantio funcionar bem, em quatro anos deve ter vegetação suficientemente alta e contínua para os micos e outros animais atravessarem o viaduto”.
Há ainda outra questão a ser resolvida. Entre o viaduto e a reserva, há uma faixa de cerca de 25 metros, por onde passam gasodutos da Petrobras. Já há conversas com a estatal sobre como ligar o viaduto à área florestada da reserva e uma das ideias é plantar árvores em ambas as margens da faixa de gasodutos e conectar as copas dessas plantas com pontes de cordas e madeira.
Saiba Mais
Criada em 1974, Poço das Antas foi a primeira reserva biológica do país com o objetivo de preservar a Mata Atlântica e proteger espécies como o mico-leão e a preguiça-de-coleira.