O secretário-geral da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), Mariano Jabonero, ressalta que a alta mortalidade da população com mais de 60 anos durante a pandemia do novo coronavírus não deveria ser atribuída, somente, ao fator grupo de risco. “Os idosos foram castigados, especialmente, por falta de medidas preventivas e de cuidados.” Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade, concorda, ao pontuar que a ênfase na comorbidade acaba sugerindo uma culpabilização da vítima.
“A pessoa tem comorbidades refletindo um curso de vida. Ela não tem hipertensão, diabetes, problemas respiratórios e cardiovasculares à toa”, destaca Kalache. “Sobretudo em um país que envelhece precocemente e mal.” Segundo o especialista, 30% dos mortos por covid-19 com comorbidades no Brasil apresentaram as condições por viverem em situação precárias.
A geriatra Karla Giacomin, que atua na prefeitura de Belo Horizonte, destaca que, na Alemanha, um dos países europeus com o melhor desempenho no combate à pandemia, só 36% dos mortos por covid-19 eram idosos. “Como em outras iniciativas de sucesso, a exemplo da Nova Zelândia, houve liderança e políticas coordenadas.”
Marília Louvison, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), observa que o Brasil adotou uma lógica hospitalar no combate à covid. “Os municípios criaram áreas específicas para triagem respiratória, ampliaram leitos. Mas o que tem feito a diferença é a atenção primária, além de rastreamento e isolamento de casos confirmados, consulta domiciliar, testagem e controle”, afirma. (MN)