Um segmento de arcebispos, bispos e bispos eméritos e da Igreja Católica no Brasil decidiu se posicionar contra o governo Bolsonaro. O grupo elaborou uma carta com duras críticas ao Poder Executivo, em áreas como economia, meio ambiente, cultura, educação e a crise sanitária do coronavírus. O texto, que tem 152 signatários, estava em análise por um conselho da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), mas vazou. Também ontem a Rede Sindical Brasileira UniSaúde denunciou o presidente ao Tribunal Penal Internacional de Haia por crimes contra a humanidade, com base na forma como ele se comporta nesta pandemia.
O texto dos bispos é duro e acusa o presidente de usar referências religiosas para difundir mensagens de ódio e preconceito. “Como não ficarmos indignados diante do uso do nome de Deus e de sua Santa Palavra, misturados a falas e posturas preconceituosas, que incitam ao ódio, ao invés de pregar o amor, para legitimar práticas que não condizem com o Reino de Deus e sua justiça?”, questiona o texto. Em outros dois momentos da carta, os bispos falam do desprezo do governo pelos direitos humanos e, também, “pela educação, cultura, saúde e pela diplomacia”.
Os bispos signatários, entre os quais se inclui o arcebispo emérito de São Paulo, dom Claudio Hummes, propõe “um amplo diálogo nacional que envolva humanistas, os comprometidos com a democracia, movimentos sociais, homens e mulheres de boa vontade, para que seja restabelecido o respeito à Constituição Federal e ao Estado democrático de direito”. Sobre o documento, a CNBB disse ser “de responsabilidade dos signatários”.
O Palácio do Planalto não quis se manifestar.
Tribunal
Pela segunda vez Bolsonaro foi denunciado ao Tribunal Penal Internacional de Haia, por crimes contra a humanidade. A ação tem como fundamento as medidas para enfrentar a pandemia da covid-19 no Brasil. A Rede Sindical Brasileira UniSaúde o acusa de “falhas graves e mortais” na condução da resposta à pandemia. A denúncia afirma que o presidente de adotar práticas que agravam a disseminação do novo coronavírus no país –– como aglomerações sem o uso de máscaras e propaganda de medicamentos que não têm eficácia comprovada contra a doença, como a cloroquina.
“O Brasil está há mais de dois meses sem um titular na pasta da saúde, que já ceifou mais 80 mil vidas e deixou mais de 2 milhões de pessoas doentes”, destaca a Unisaúde, em comunicado. Em abril, Bolsonaro foi denunciado ao mesmo tribunal pela Associação Brasileira de Juristas pela Democracia pela alegação de que praticou crime contra a humanidade.
A Advocacia Geral da União comentou que somente se manifestará quando for notificada. (Colaborou Renato Souza)