Brasil

As razões da evasão escolar

IBGE disseca, em números, o que leva o estudante a abandonar a sala de aula. Problema se potencializa entre as camadas de mais baixa renda da sociedade e atinge pesadamente a população preta e parda. Problema é mais agudo no Nordeste

Correio Braziliense
postado em 16/07/2020 04:06
Sala de aula precária em Águas Lindas. População de baixa renda, sobretudo preta a parda, é a maior vítima da evasão escolar

Mais da metade dos adultos com 25 anos ou mais no Brasil não concluiu o ensino médio e 51,2% das pessoas nesta faixa etária, ou 69,5 milhões de cidadãos, não terminou essa etapa educacional. A constatação foi feita pelo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) cujos dados foram divulgados ontem, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua 2019. O levantamento ainda aponta que pretos e pardos são os mais prejudicados, com taxas maiores de atraso ou evasão escolar. Mais: das 50 milhões de pessoas entre 14 e 29 anos, pouco mais de 20% não completaram alguma das etapas do ensino obrigatório, e isso se agrava entre pretos e pardos, pois representam 71,7% do total.


Essa é a primeira vez que a pesquisa divulga dados referentes ao abandono escolar. Entre as informações coletadas está o que levou à fuga da sala de aula: o principal motivo é a necessidade de trabalhar (39,1%), que afeta, sobretudo, as famílias com menor renda. Porém, há ainda a falta de interesse, que é 29,2% dos casos. Entre as mulheres que param de estudar, destaca-se a gravidez (23,8%) e afazeres domésticos (11,5%). Do número total de pessoas na idade escolar, entre 15 e 17 anos, 78,8% tinham dedicação exclusiva aos estudos.


Quase três quartos dos jovens entre 18 e 24 anos estavam atrasados ou tinham abandonado os estudos no ano de 2019, mostrou a Pnad Educação 2019. Analisando os números, é possível constatar que a situação entre os jovens fica mais delicada ao se considerar as faixas etárias mais avançadas. O momento da transição entre o ensino fundamental e o médio acentua esse abandono. “A fase igualitária fica muito concentrada dos seis aos 10 anos. A partir dos 11 anos, começamos a perceber distorções com desequilíbrio em relação à cor ou raça”, alertou Adriana Beringuy, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Impactos
No Nordeste, três em cada cinco adultos não completaram o ensino médio –– aproximadamente 60% da população. Os dados levantados ainda destacam a diferença entre brancos e negros ou pardos: enquanto entre os brancos 57% tinham finalizado o ensino médio, entre os pretos e pardos o total de pessoas que concluíram a etapa era de 41,8%.


“Apesar desses indicadores desfavoráveis, estamos avançando no Nordeste. São avanços que vão, de fato, demorar, mas é importante que aconteçam”, pontuou Adriana Beringuy, acrescentando que, como a região parte de um patamar desfavorável, levará anos para alcançar um patamar parecido com o Sul ou o Sudeste. “Ainda mais se não houver políticas públicas que acelerem o processo”, lastimou.
O analfabetismo também foi enfatizado. Mais da metade daqueles que não sabem ou têm dificuldades em ler e escrever se concentram no Nordeste (56,2%). A taxa no país está em 6,6%, aproximadamente 11 milhões de pessoas, sendo que mais da metade (56,2% ou 6,2 milhões) vive no Nordeste.

 

Quase mil mortos pela polícia

A Rede de Observatórios da Segurança divulgou, ontem,  o relatório Racismo, motor da violência, que monitora os registro policiais de cinco estados — Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo — e analisa mais de 12.500 registros de eventos relacionados à segurança pública e à violência. Dos números coletados, constatou-se que os mortos em operações policiais foi de 984 pessoas, sendo 483 no Rio de Janeiro, 260 na Bahia e 207 em São Paulo, no período entre 1º de junho de 2019 e 30 de maio passado.


Pelos dados obtidos ao longo de um ano, constatou-se que as ações de policiamento foram as mais numerosas, representando 56,2% do total. Foram 7.062 ações policiais monitoradas nos estados e, deste total, 2.772 no Rio de Janeiro; 2.210, em São Paulo; 1.015, na Bahia; 707, no Ceará; e 358, em Pernambuco.


O levantamento também reuniu dados sobre a violência contra a mulher, salientando que “ao longo de doze meses a Rede monitorou 1.314 violências contra mulheres, como feminicídios, agressões físicas e violência sexual”. Do total, 38,3% dos casos foram relativos à tentativa de assassinato ou agressão física, seguido por 33,7% dos casos registrados de feminicídio. “Boa parte deles ocorreu nos domicílios das vítimas e foi motivada por brigas e términos de relacionamento — uma evidência de o quanto o machismo reproduz a violência. Apesar do grande número de casos, são raras as informações sobre a raça/cor das vítimas”, complementa o estudo.


A atuação da imprensa também é criticada pelo relatório. “Um impressionante silêncio sobre o tema racial tem prevalecido na mídia e no debate público”, salienta o documento, alertando “o monitoramento resultou em 12.559 registros — dos quais apenas 50 relacionados ao racismo e à injúria racial”.


Foram reunidas informações a partir do acompanhamento diário de sites, portais noticiosos, jornais, perfis de redes sociais e grupos de WhatsApp. “Os pesquisadores esquadrinharam veículos jornalísticos e as redes sociais em busca de relatos sobre ocorrências relacionadas à segurança pública e à violência”, diz a publicação. (RR)

 

Ribeiro assume, mas já está trabalhando
O novo ministro da Educação, Milton Ribeiro, toma posse hoje, às 16h, no Palácio do Planalto com presença virtual do presidente Jair Bolsonaro, que cumpre isolamento por ter contraído covid-19. Mas o novo titular do MEC está trabalhando em Brasília desde segunda-feira, período que serviu para entender a estrutura da pasta. “Minha intenção é dedicar o melhor dos meus esforços, conhecimento e dedicação, para auxiliar o presidente Bolsonaro a oferecer educação que projete esperança ao futuro do nosso país através da formação de nossos filhos”, publicou Ribeiro numa rede social. Porém, o ministro já teve a primeira baixa: Antonio Paulo Vogel, que era o secretário-executivo do MEC, pediu exoneração da função na terça-feira.

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