Brasil

Monitoramento e controle

Mesmo com uma expectativa de estabilização na curva após agosto, o médico do serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Imaculada Conceição, em Curvelo,  Rodrigo José indica que medidas subsequentes serão necessárias, já que mesmo com o controle da doença, o vírus permanecerá no país. Por isso, o pesquisador do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Carlos Machado ressalta a importância da vigilância e do monitoramento adequado, diante do convívio com as medidas de restrição, vistas como o único remédio eficaz contra a infecção até o momento.

“As medidas de distanciamento social terão que ser apertadas e afrouxadas a todo momento e nós não temos como fazer isso sem vigilância e monitoramento adequados”, afirma. No entanto, na prática, o controle das liberações é, ainda, mais desafiador e necessário. Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, a abertura de bares e restaurantes chamou multidões sem máscaras às ruas. Com exigência de funcionar com 50% da capacidade e manter distanciamento de 2 metros, os estabelecimentos não comportaram a demanda no primeiro dia de flexibilização, na quinta passada; as pessoas decidiram fazer a festa na rua. 

“Os agentes determinaram o fechamento de diversos bares, apesar de todos respeitarem os protocolos de segurança sanitária, como distanciamento, uso de máscaras e higienização disponível aos clientes. Devido à aglomeração na rua, todos os estabelecimentos foram orientados e fecharam as portas”, informou a Guarda Municipal do Rio. 

Exaustão
Em municípios de São Paulo, incluindo a capital, uma liberação semelhante começa esta semana. O temor é de que ocorra situação de descontrole parecida com  a do Rio. “Todos nós estamos ansiosos para sair de casa, para celebrar com os amigos, mas não estamos no momento de celebração. Estamos no momento de solidariedade, entender os protocolos e cumprir. Se isso não acontecer, o Plano São Paulo tem gatilhos para retrocedermos. Os dados vão nos mostrar isso. O papel de liderança dos prefeitos tem sido fundamental, mas o de cada cidadão também é”, alertou a secretária de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Patricia Ellen. 

A capital paulista é uma das cidades onde a flexibilização começa a valer hoje. No fim do mês, caso sejam mantidos os níveis de controle, academias e salões de beleza também entrarão no rol de atividades permitidas, com restrições. Por outro lado, Campinas foi uma das cidades que retrocederam no afrouxamento, suspendendo todas as atividades não essenciais.

Na avaliação do pneumologista do Laboratório Exame Elie Fiss, essa movimentação acontece porque ainda não “conhecemos a história natural completa desse vírus. Não tem nem um ano que o conhecemos, tem meses. O vírus influenza, por exemplo, você sabe que aumenta no outono e inverno e depois reduz. Já com o novo coronavírus, nós não sabemos qual o comportamento dele.”

A falta desse conhecimento também traz dúvidas sobre uma possibilidade de reinfecção nos pacientes que já testaram positivo uma vez. “A gente ainda não tem conhecimento de qual vai ser o comportamento dessa imunização gerada pela primeira infecção. É importante ressaltar isso porque, às vezes, as pessoas acham que porque tiveram uma vez, estarão imunizadas e não precisam usar medidas de proteção. Existe uma perspectiva de que esses pacientes não consigam gerar uma imunidade duradoura, como se esperava”, explica o médico Rodrigo José. (BL e MEC) 

Ministério da Saúde se esquiva
Frequentemente questionado sobre uma orientação de medidas mais intensas diante do aumento de casos registrados, a pasta de Saúde tem se esquivado da responsabilidade, empurrando o impasse para as mãos dos gestores locais. “Com relação a orientar a tomar decisão de restrição ou não, não cabe ao Ministério da Saúde, mas ao gestor local. Nós iremos dar o suporte e o apoio necessário em cima da decisão tomada pelo gestor”, afirmou o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Correia, em coletiva, na quarta passada. No dia seguinte, o secretário-executivo do ministério, Élcio Franco, voltou a reforçar que cabe a prefeitos e governadores o estabelecimento das medidas de distanciamento social. “Isso já está pacificado e decidido pelo Supremo Tribunal Federal”, resumiu. Franco também destacou que cabe aos municípios e estados gerir as verbas repassadas.