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Leonardo Villar, 96 anos, um mestre da cena

 
 
Um dos atores mais importantes da produção audiovisual do país, Leonardo Villar morreu, ontem, aos 96 anos, em decorrência de uma parada cardíaca. Estava internado havia um mês, após operação realizada no fêmur. Dono de uma vasta galeria de personagens marcantes, eternizou-se nas telas com o personagem Zé do Burro em O Pagador de Promessas, filme de Anselmo Duarte, que conquistou a Palma de Ouro, em 1962, no Festival de Cannes.

Nascido em Piracicaba (SP), o ator nunca buscou papéis fáceis como o do galã típico. No cinema, não foi apenas a devota aplicação ao texto de Dias Gomes que lhe trouxe a consagração. Outro momento em que fez história veio com a adaptação de A Hora e a Vez de Augusto Matraga (1965), da obra de Guimarães Rosa, e recriada nas telas por Roberto Santos, que rendeu a Villar premiação na I Semana do Cinema Brasileiro de Brasília. Ainda na capital, interpretou o personagem de Amor e Desamor (1966), conduzido por Gerson Tavares.

Muito da carreira de Villar derivou de personagens da literatura e do regionalismo nacional. O tímido ex-alfaiate Leonildo Mota, seu nome de batismo, encarou fitas como Lampião, Rei do Cangaço (1964) e A Grande Cidade, de Cacá Diegues, no qual encenou a vida de um migrante que descamba para o crime. Por Madona de Cedro, de 1967, colheu elogios em personagem saído da literatura de Antônio Callado. O público de Brasília também aplaudiu suas aparições em Ação Entre Amigos (1998), de Beto Brant, no qual interpretou um ex-torturador, e Chega de Saudade (2008), de Laís Bodanzky.

Ainda alfaiate no bairro do Brás, em São Paulo, Villar se encantou com o desempenho de Dulcina de Moraes nos palcos. Na cena, integrou o Teatro Brasileiro de Comédia depois de teste feito diante de ícones como Sábato Magaldi, Cacilda Becker e Décio de Almeida Prado.

Villar também construiu profícua carreira na teledramaturgia e teve a difícil tarefa de substituir Sergio Cardoso, quando da morte, na telenovela O Primeiro Amor. Também na Globo, viveu personagens que conquistaram popularidade em Estúpido Cupido (1976), Barriga de Aluguel (1990) e Passione (2010). O ator ainda integrou o núcleo de dramaturgia da extinta Rede Manchete e participou de Amazônia (1991) e Tocaia Grande (1995).