Na primeira fase do teste, o grupo constatou que 1,9% da população apresentava anticorpos para a covid-19. Duas semanas mais tarde, a indicação já era de 3,1% de infectados, um salto de 53%. Por fim, até 24 de junho, o percentual já estava em 3,8%, ou seja, 23% a mais do que na avaliação anterior. "Se fosse uma corrida de Fórmula 1, o Brasil era o carro que estava acelerando mais rápido na pista da segunda para terceira fase, tivemos uma desaceleração. Então o pneu começou a ficar desgastado, e, felizmente, o nosso carro diminuiu de velocidade", exemplificou o professor reitor da Ufpel, Pedro Hallal.
Somadas as três fases da pesquisa, foram identificadas 2.064 pessoas com anticorpos, ou seja, que tem ou já tiveram infecção pelo coronavírus.
Ao avaliar os infectados por sexo e idade, a conclusão é que não há diferença no risco de contrair a infecção entre homens e mulheres ou por grupos de idade. No entanto, severidade da doença tende a ser maior nos grupos etários mais avançados. Já no recorte por região, é extrema a discrepância.
O Norte lidera as regiões com infecção de forma predominante nas três comparações. Já na primeira fase, eram 6,3% da população com a infecção. Esse número cresceu para 9% e depois caiu para 8%. Hallal explica que a pesquisa não considera isso uma queda. “Entre a fase 2 e a fase 3 deu empate técnico na região Norte. Tem uma margem de erro associada com o 9% e o 8%, o que significa que há empate técnico. Não há uma tendência de diminuição exceto se ao longo do tempo fizermos novas fases da pesquisa e confirmarmos isso”, disse.
A região com maior variação temporal foi o Nordeste. Iniciou com 0,8%, subiu para 3,2% e depois para 5,1%. Além do Norte e Nordeste, o Sudeste também teve um dos registros acima de 1%, quando, na terceira fase, marcou 1,1% de população infectada. As maiores elevações no Centro-Oeste e no Sul também ocorreram na fase três, com percentual de 0,9% e 0,4%, respectivamente.
Uma das grandes variações também foi notada ao se comparar a população por nível sócio-econômico. Dividido em 5 grupos dos 20% mais pobres aos 20% mais ricos, a avaliação mostrou que, ao comparar os dois extremos, o risco de contrair a doença é mais que o dobro entre os mais vulneráveis. Isso ocorreu de forma sistemática nos três momentos. Enquanto, no fim de maio, 2,1% dos mais pobres atestaram positivo, no grupo dos mais ricos a marca ficou em 1%. Já entre 21 e 24 de junho, a diferença foi de 4,1% para 1,8%.
Subnotificação
Saiba Mais
Com o ritmo de crescimento de novas confirmações em expansão para as demais regiões e o interior do país, não é possível se falar em decrescimento da curva. A diminuição da adesão às medidas de isolamento também impactam nessa tendência. No estudo foi apurado com que frequência os entrevistados saiam de casa. Na primeira fase, 20,2% afirmaram sair diariamente, 56,8% apenas para atividades essenciais e 23,1% disseram não sair. Já na terceira fase, os números ficaram em 26,2%, 54,8% e 18,9%, respectivamente.
A queda na adesão representa, ainda, maior risco de infecção mesmo para quem não sai de casa. Isso porque a análise mostrou, ainda, que 39% das pessoas que moram com pessoas que testaram positivo para o vírus também contraíram a doença. Essa conclusão foi possível porque, havendo uma pessoa positiva no âmbito da pesquisa, todos os habitantes da mesma casa também foram testados.
Apenas 9% dos participantes não relataram sentir qualquer sintoma, sendo classificados como assintomáticas. A letalidade do vírus foi avaliada em 1,15%, podendo variar de 1,05% a 1,25%. Ou seja, em um grupo de 10.000 infectados, 115 morrem.