Brasil

Modelos massivos ao redor do mundo

Especialistas indicam que nenhum país retomou as atividades no patamar da curva que o Brasil se encontra. Machado indica que Espanha, Itália e Reino Unido só começaram a flexibilizar as medidas de isolamento social quando se observou uma queda sustentada. A testagem massiva pela qual Itália e Espanha optaram foi capaz de controlar a disseminação do vírus, promovendo políticas públicas que resultam na queda da curva de novos casos e, consequentemente, óbitos — ambos países têm reportado menos de 50 mortes diárias há semanas.

Enquanto no Brasil são aplicados 13.452 testes por milhão de habitantes, na Espanha esse número é 8,2 vezes maior: são 110.426 exames por milhão. Na Itália, a taxa é de 85.394, mais de seis vezes superior à brasileira.

Para se equiparar aos dois países europeus, o Brasil teria de testar entre 18 e 23,4 milhões de pessoas — a nova etapa de testagem planejada pelo governo federal seria suficiente para chegar a esse patamar. Na visão do criador da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o médico Gonzalo Vecina, apesar de esse planejamento ser um “grande avanço”, ele não é suficiente sem o prosseguimento das etapas de contenção. “De nada adianta saber quem está contaminado, se não houver controle efetivo do infectado e do grupo que teve contato com ele.”

É necessário, após a identificação, entrar em contato com os contactantes. “Tem de distribuir esses testes pelos municípios e na atenção básica para identificar os que tiverem com os sintomas. Se der positivo, pede-se para indicar cinco contactantes. Neste grupo, pela atual taxa de contágio, é provável que se encontre dois infectados, ainda nos primeiros dias de infecção. Nesse nível, normalmente, os contactantes positivos ainda não têm sintomas manifestados. Assim, cria-se uma barreira efetiva para impedir a transmissão descontrolada do vírus”, explica Vecina.

Na Coreia do Sul, exemplo amplamente utilizado em estudos pela alta capacidade de aliar a testagem a outros elementos necessários para controlar a doença, registraram-se 12,6 mil casos e mais de 280 mortes. No país, praticamente todos os cidadãos eram monitorados por meio de aplicativos e, com isso, o governo conseguiu acompanhar e prever as infecções, contendo um potencial surto logo no início.

Recentemente, os Emirados Árabes iniciaram uma forte política de testagem, detectando assintomáticos e pré-sintomáticos com eficiência. No grupo de países com mais de 30 mil infectados, a nação árabe lidera a quantidade de exames por milhão de habitante, com 317.140 aplicações neste recorte. A região soma, aproximadamente, 46,9 mil infecções e 310 mortes pela covid-19.

Adequações
Apesar de serem exemplos que destoam da realidade social, econômica e geográfica brasileira, metodologias de complemento ao diagnóstico podem ser replicadas com adequações. É o que tenta fazer, por exemplo, Distrito Federal, Rio de Janeiro e estados do Nordeste por meio de aplicativos de monitoramento. Pela plataforma, o usuário tem acesso à informação segura e de qualidade, além do acompanhamento do estado de saúde. Caso seja um paciente suspeito, pode, ainda, ser indicado para testagem e, havendo confirmação, indica-se contactantes para facilitar o rastreamento. “O Brasil tem condições de avançar com essa técnica, mas precisa de um esforço coordenado para isso”, ressalta Vecina.

Por enquanto, o passado recente nacional segue como mau exemplo na disseminação da doença e faz um seguidor. Para Vecina, o México, que atualmente é o pior em rastrear infecções dentro dos países com mais de 30 mil casos, segue a posição que ocupou o Brasil semanas atrás. “O México é comparável até na incapacidade do presidente. Apesar de um líder ser de direita e o outro, de esquerda, ambos desprezaram a força do que é mais do que uma gripezinha e estão pagando o preço dessa ignorância.” (BL e MEC)