O crescimento de casos do novo coronavírus no Sul pode indicar que a região, até então com baixos números de óbitos e de contágio em relação ao resto do Brasil, precise voltar atrás em medidas de flexibilização do isolamento. A chegada do frio ameaça agravar ainda mais a situação. No Paraná, por exemplo, a curva de infecção cresceu nos últimos dias e o vírus atinge mais 75% dos municípios do estado. O mesmo acontece no Rio Grande do Sul, que tem casos da covid-19 em 74% do território.
Até a noite de ontem, a situação no Paraná era, em somente 24 horas, de 13 óbitos e 868 novos casos confirmados. Entre segunda e terça-feira, o estado havia registrado 30 mortes, o maior número desde primeiro informe com casos confirmados da covid-19. Os dados indicam um aumento na curva de contágio, que totaliza 12.785 pessoas infectadas e 419 vidas perdidas.
Nos outros estados da região, os números também preocupam. Em Santa Catarina, o total de óbitos chegou 234 e 16.322 casos. Já no Rio Grande do Sul, com os números mais altos, foram 423 pessoas mortas pela doença até agora e 18.587 infectadas.
Para o médico Hemerson Luz, entre as dificuldades da flexibilização está o comportamento das pessoas, um fator imprevisível. “Essas medidas de reabertura de atividades se baseiam em números e estimativas levando-se em conta uma previsão de que o distanciamento e isolamento que tinha antes das medidas de flexibilizar seria mantido, o que nem sempre acontece”, observou. “Hoje, temos pessoas andando na rua sem máscaras, aglomerações em shopping e lojas, coisas que o comportamento pode pôr em risco”.
Outra preocupação é que os casos estão cada vez mais espalhados pelos estados. No Rio Grande do Sul, por exemplo, 358 dos 497 municípios têm casos da doença, um percentual de 72% dos municípios. Mas, segundo a Secretaria de Saúde do Estado, os casos estão concentrados nos principais polos regionais, como a Região Metropolitana de Porto Alegre, a Serra Gaúcha e a Região dos Vales. No Paraná, a situação da covid-19 teria atingido mais de 300 cidades. Com mais de 75% dos municípios afetados, passou a marca dos 10 mil casos.
“No Brasil, ocorre uma interiorização dos casos. Como essas cidades muitas vezes dependem de outras maiores, isso pode levar a um desgaste maior da saúde”, disse Hemerson, acrescentando que não acredita que a situação do Sul chegue aos níveis que o Norte do país enfrentou. Mesmo assim, o lockdown não está descartado no Rio Grande do Sul e no Paraná. “Esta possibilidade é estudada diariamente nas reuniões do COE de acordo com a situação da doença no Estado. Ainda não há uma estimativa ou certeza se o Paraná irá adotar este tipo de medida”, esclarece a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul.
*Estagiária sob supervisão
de Fabio Grecchi