O Hospital da Universidade Federal de Macapá (Unifap) inaugurou uma ala para se tornar referência no tratamento da covid-19 no estado. As obras do novo hospital vêm sendo feitas desde dezembro de 2016, mas agora, pela necessidade urgente de tratamento dos infectados pelo novo coronavírus, a ala foi aberta.
O total do investimento feito pelo Ministério da Educação foi de R$ 172 milhões. Ao todo, são 30 leitos para adultos, dois para crianças e quatro para indígenas, num corredor exclusivo para eles, com direito a redes na enfermaria. No novo hospital há 34 respiradores e mais seis de reserva. “Temos mais respiradores que leitos”, diz o administrador Sávio Sarquis, funcionário do governo do estado.
Inaugurado no dia 5 de junho, o hospital universitário teve, em 12 dias, 22 pacientes que receberam alta (uma delas uma criança indígena) e somente dois óbitos por covid-19. “Pouco mais de 50 pacientes já estiveram internados aqui conosco. Todos vêm referenciados, ou seja, antes já estavam internados em outro lugar. Agora temos 12 pacientes na UTI”, disse explicou Sarquis.
Para que o novo hospital tivesse um corpo clínico maior, as Forças Armadas abriram um programa de voluntariado. Assim, 12 militares profissionais de saúde, entre médicos, enfermeiros e técnicos, aceitaram o desafio de assistir à população civil de Macapá, além de indígenas da região.
É o caso da médica Fabiana Grossi Machado, que saiu de Porto Alegre. No Norte do país, ela usou sua experiência para fazer um procedimento inédito: uma ultrassonografia pulmonar. “Como médica e como militar, me move ajudar e cooperar, estar onde o povo precisa da gente. Não podemos nos esconder”.
O apoio médico-militar chegou dos estados do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. A enfermeira Thaís Fioravanti, primeira-tenente do Exército, aceitou o desafio. Largou temporariamente o Hospital Geral de Santa Maria (RS) e foi para Macapá. “Logo no segundo dia em que estávamos aqui, um paciente teve alta. A gratidão dele nos deu força para continuar”, afirmou.
A psicóloga maranhense Sabla Figueiredo contou um dos “segredos” da rápida recuperação dos infectados no Hospital Universitário: “Fizemos até festa de aniversário para uma paciente. Ela queria comer churrasco. Nós providenciamos. Num momento em que o paciente está fragilizado, tudo ajuda na recuperação”.
Camilo Teles, fisioterapeuta intensivista do estado, se contaminou ao tratar de pacientes em outro centro de saúde. “Atuei por dois meses na Unidade 01 até ser contaminado e ter 30% do pulmão comprometido. A doença evoluiu e logo já estava com 50% de comprometimento”.
No hospital, ele foi tratado por três médicos e conseguiu ter alta. Em casa, no bairro Santa Rita, em Macapá, ao lado dos familiares, ele ainda está frágil, mas sem a doença. “Hoje eu me sinto cansado quando faço esforço, mas me mantenho de forma estável. Cada dia melhor, exame de uma pessoa saudável. Logo, logo, estaremos na linha de frente para continuar a guerrear”, disse Camilo, demonstrando ainda faltar fôlego para uma entrevista curta.
Até essa quarta-feira (17/6), o Amapá contabilizava mais de 18.600 casos confirmados de coronavírus; - 338 pessoas morreram e mais de 8 mil se recuperaram. Esses números podem aumentar com a abertura do comércio da capital Macapá.
Se isso acontecer, o administrador Sávio Sarquis garante que o hospital está preparado. “Nós estamos abrindo os leitos escalonadamente”.
Segundo Sarquis, para quem está na linha de frente desta guerra, a tática é uma só: não ter medo. “Há o risco de contaminação, mas você tem de esquecer e fazer o que deve que ser feito. Os pacientes já estão angustiados e ansiosos. Cabe a nós fazer com que eles fiquem calmos e tranquilos”, disse Thaís Fioravanti.