Correio Braziliense
postado em 15/06/2020 21:39
O ex-diretor do Museu de História Natural e Jardim Botânico acusou a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) de negligência com o incêndio que atingiu a reserva técnica nesta segunda-feira, localizada no Bairro Horto, Região Leste de Belo Horizonte.
"Alertamos a universidade sobre o que poderia acontecer. Não foi por falta de aviso", denuncia Antonio Gilberto Costa, que foi diretor do museu de 2013 até agosto do ano passado. Ele afirmou que o museu não tinha um plano para situações de emergência, que chegou a ser aprovado internamente com o conselho, mas barrado pela reitoria.
Segundo o ex-diretor, que também é professor do Instituto de Geociências, durante sua gestão foram arrecadados recursos do Ministério Público para restaurar a parte interna da reserva, mas não foi liberada autorização para obras. "O MP autoriza a execução de adaptação da reserva, acondicionamento adequado, embalagens novas. Tudo isso foi feito. É uma perda irreparável. A obra deveria ser contrapartida da universidade, que deveria ter investido recurso e ela não fez isso", reclama Antonio.
"Estou acusando a UFMG de negligência com relação ao patrimônio", disse o geólogo, com os olhos marejados. "O que estava aqui é importante para a história da evolução do homem. E as pessoas não têm noção disso. E as pessoas as quais eu me refiro é a administração da universidade. Eles não conhecem, não sabem, não vêm aqui", afirma.
O professor disse que ao término da gestão do museu, ele deixou em caixa cerca de R$ 600 mil. Após visitar por fora a destruição, ele lamentou o ocorrido e lembrou do incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro.
"Saio com uma tristeza imensa. Depois de muitos anos conseguimos recursos para melhorar a universidade. Ver a destruição que eu vi é lamentável. Que país é esse que a gente vê a todo dia acontecerem essas coisas e ninguém faz nada? Que justiça é essa?", indagou.
"Tem exposição dentro do museu que a gente não podia ligar a rede elétrica sob risco de curto circuito", denuncia o ex diretor. "Tem exposições em que chove mais dentro do que fora", completa.
Segundo Antonio, o acervo da coleção de arqueologia que foi atingido era único e considerado a reserva mais importante do museu. "Era histórica. Sabemos que toda a parte do acervo orgânico, a coleção de insetos, borboletas, zoologia está na parte mais afetada porque o telhado também caiu. Eu não entrei, mas pelas fotos que vimos, muita coisa se perdeu", conta. "Coisas que eram importantíssimas não só para a história de Minas, mas para a evolução do homem."
Nota da UFMG
Na manhã desta segunda-feira, 15/06, a UFMG foi informada de um incêndio nas dependências do Museu de História Natural e Jardim Botânico (MHNJB), localizado na Região Leste de Belo Horizonte. O fogo foi, assim que identificado, combatido por funcionários que integram a brigada de incêndio do próprio Museu. O Corpo de Bombeiros foi acionado imediatamente, chegando ao espaço e debelando as chamas ainda no período da manhã.
Ainda não são conhecidas informações sobre o horário exato do início e as causas do incêndio, que ficou concentrado em uma das edificações, que abriga parte da reserva técnica do Museu. Neste momento, o local está isolado e sendo periciado.
A Reitoria da UFMG manifesta imenso pesar e se solidariza com a diretoria, com aqueles que integram o corpo funcional do Museu de História Natural e Jardim Botânico e com toda a comunidade que atua neste que é um importante patrimônio da Instituição. A Administração Central da Universidade ressalta que está tomando as medidas cabíveis neste momento e auxiliando as autoridades competentes na perícia. O MHNJB possui um precioso acervo e é um importante espaço de pesquisa, de extensão e de preservação histórica instalado em uma área com aproximadamente 600.000 m² com vegetação diversificada e típica da Mata Atlântica, que reúne, além das nativas, espécies exóticas e animais que não sofreram dano causado pelas chamas. A Reitoria da UFMG agradece a ação rápida dos brigadistas de incêndio e informa que estará, junto com diretoria e equipe do Museu, em busca de alternativas e soluções no sentido de reparar de forma célere os danos causados.
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