Sem capacidade de testagem em massa, taxas de ocupação de leitos de UTI perto do limite e explosão de casos e mortes, o Brasil supera, há dias, as atualizações diárias de todos os países. Nesta quinta-feira (11/6), somou mais 1.239 óbitos e 30.412 casos no balanço, acumulando 40.919 vítimas fatais e 802.828 pacientes diagnosticados. Mesmo assim, o país vive um momento de flexibilização do isolamento social, com a abertura de comércios, algo que, consequentemente, faz com que o vírus se espalhe mais facilmente.
O alto aumento diário coloca o Brasil cada vez mais perto de se tornar o segundo do mundo com mais mortos pelo novo coronavírus. Com faixa de 1,2 mil óbitos diários, a previsão é que ainda hoje os números brasileiros superem os do Reino Unido, que acumula 41.364 fatalidades. Na frente do ranking da Universidade Johns Hopkins continua os Estados Unidos, com 113.561 mortes.
Somente em São Paulo foram contabilizados, até ontem, um total de 10.145 óbitos –– ou seja, mais do que o dobro de fatalidades da China, país onde se originou a doença e que, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), soma 4.634 vítimas fatais desde o começo da pandemia. Nas últimas 24 horas, o estado somou mais 283 óbitos e 6.204 novos casos, chegando a 162.520 infectados.
Em seguida, e também próximo de alcançar o dobro de mortes na China, aparece o Rio de Janeiro, com 7.363 pessoas mortas. O Ceará, que ontem ultrapassou o total de chineses mortos, reportou mais 183 perdas, somando 4.663. Outros cinco estados superaram a marca das mil mortes: Bahia confirmou 1.013 perdas pela doença; Pará (4.030), Pernambuco (3.633), Amazonas (2.400), Maranhão (1.360) já haviam quebrado a barreira anteriormente.
Os números, que são altos e chamam atenção, podem ser ainda maiores por causa da sub-notificação. Pesquisadores responsáveis pelas análises do portal Covid-19 Brasil estimam que o total de infectados chega a ser 10 vezes maior do que o revelado pelos dados oficiais. Desta forma, o Brasil teria, na verdade, uma média de mais de 6,39 milhões de pessoas infectadas. Esse cálculo colocaria o país no topo da lista dos mais contaminados, com números três vezes maiores do que o dos EUA, que têm 2,01 milhões de confirmados com a doença.
Na visão dos especialistas, o afrouxamento das medidas de distanciamento social, sem as informações necessárias para saber quem está infectado e qual a velocidade em que a doença se espalha, levará o sistema de saúde ao colapso.
Intransigência
No manhã do dia em que se registraram 40.919 vítimas fatais no país, uma instalação montada na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, que homenageava as vítimas do novo coronavírus e protestava contra a condução da crise sanitária pelo governo federal, foi vandalizada. O tributo às vítimas da covid-19, organizado pela ONG Rio de Paz, era composto por 100 covas rasas cavadas na praia e cruzes pintadas de preto fincadas na areia.
Três homens e uma mulher, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, agrediram verbalmente os manifestantes e repetiram que a ação estava apenas criando pânico social. Um deles xingou os organizadores de “seus merdas” e invadiu o cenário, derrubando, ao menos, 20 cruzes.
“Nós estávamos ouvindo muitas expressões de ódio, provocação. Mas um senhor decidiu derrubar as cruzes, mesmo sem que nós tivéssemos reagido”, contou Antônio Carlos Costa, presidente da Rio de Paz.
Em um vídeo divulgado nas redes sociais da ONG, é possível ver o homem gesticulando e empurrando as cruzes na areia. Na sequência, o taxista Marco Antônio do Nascimento Silva, de 55 anos, que perdeu um filho para a doença, pediu respeito e, irritado, recolocou os objetos arrancados.
“Meu filho morreu com 25 anos. Ele era saudável. Vocês têm que respeitar a dor das pessoas. O mesmo direito que ele tem de tirar eu tenho de botar”, esbravejou. O homem que violou a instalação não foi identificado.
Houve um princípio de bate-boca, mas o grupo bolsonarista se afastou, apesar de continuar gritando para atrapalhar a entrevista que os responsáveis pela ação concediam.
A ONG Rio de Paz esclareceu que é um movimento suprapartidário e que não recebe verbas públicas de qualquer espécie. Os organizadores do protesto pediram mudanças na postura do presidente da República e acusam a “sucessão de erros” cometida pelo governo federal no combate ao novo coronavírus.