Correio Braziliense
postado em 11/06/2020 15:41

Com os crescentes protestos antirracistas que se tornaram pauta mundial neste mês de junho, não apenas instituições de ensino, mas o próprio MPF recebeu diversas representações da sociedade civil denunciando fraudes em cotas raciais usadas para ingresso em universidades públicas. O movimento foi ampliado após a polêmica do perfil Fraudadores de Cotas, que estimulava a exposição anônimas de pessoas com fenótipos de brancos e com histórico de privilégios que haviam se autodeclarado negras, pardas ou enquadradas em benefícios relacionados à baixa renda familiar. A conta passou menos de 48h no ar e provocou debate expondo nomes que incluíam um universitário que assumiu a transgressão e uma indígena que já tinha tido problemas para provar sua descendência à universidade.
De acordo com o Ministério Público Federal, apesar do foco no tema, já há um trabalho sistemático para evitar fraudes no sistema seletivo. "Nos últimos anos, o MPF recomendou que os institutos e universidades federais do Rio de Janeiro instaurassem comissões de verificação prévia ao ingresso de candidatos que se declaram cotistas. Devido a esta atuação, tais comissões existem hoje em todas as instituições federais de ensino do estado", afirma o órgão em nota enviada ao Correio.
Uma vez que a fraude seja comprovada, independentemente do quão avançado esteja o curso do estudante universitário, cabe à instituição de ensino jubilá-lo ou anular suas matrículas. O mesmo pode ser feito por meio de ação judicial, por um procurador, caso a universidade não tome providência. No caso de condenação, mesmo que o estudante tenha que ressarcir financeiramente os cofres públicos pelas mensalidades que deixou de pagar, é possível que ele seja responsabilizado também na esfera penal.
As denúncias são recebidas pela ouvidoria do MPF pelo site da instituição, no endereço http://mpf.mp.br/servicos/sac. Registros relacionados à exposição de estudantes nas redes sociais foram recebidas pelo órgão, que garante que cada caso já está sob apuração e alerta que "a repetição de representações nesse sentido pode comprometer a agilidade pela necessidade de nova análise de cada situação".
Recomeço possível
No Brasil, as regras de jubilamento e anulação de matrícula variam entre instituições. No entanto, o fato de ter a continuidade do curso comprometida não significa que a formação do universitário não possa ter continuidade, em caso de ele passar por novo processo seletivo, por vias regulares, e ser aprovado - dessa vez, como novos vínculo e matrícula. Foi o que fez o estudante de direito Ruan Carlos, um dos denunciados pelo perfil Fraudadores de cotas que assumiu a transgressão em uma vaga na UFRJ publicamente.
"Sou eu. Eu sei que já fiz merda, e não escondo minha cara por isso. Aí eu tinha 16 anos. E depois saí da faculdade, abandonei essa matrícula e reingressei com outro Enem e uma regular. Ja sofri retaliação e exposição desde o início e acho que isso é necessário mesmo pra que não se repita hoje", escreveu o jovem, que agora cursa direito na Universidade Federal Fluminense, de Niterói (RJ). "Isso não é um segredo, eu já fui exposto desde o início e é por poder ter conversado com as pessoas e ter entendido que eu tinha feito merda, que eu abandonei a vaga", declarou.
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