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Pandemia no Brasil segue mortal e veloz

Enquanto estados flexibilizam quarentena, o país registrou, nos últimos sete dias, a maior média mundial de óbitos, passando os EUA e o Reino Unido. Em 24 horas mais 1.274 vidas perdidas foram contabilizadas, totalizando 39.680



O descompasso das estratégias de enfrentamento à covid-19 por parte do governo federal e a resistência da população em manter a quarentena refletem nos aumento catastrófico do número de mortos e infectados pela doença. Antes mesmo de o relaxamento das medidas de isolamento ser efetivamente adotado em alguns estados e municípios, estudos demonstram aumento de circulação nas grandes cidades. Com 772.416 casos e 39.680 vítimas da doença, o Brasil é atualmente o país com maior atualização diária. Somente ontem, foram contabilizados mais 32.913 infectados e 1.274 óbitos pelo novo coronavírus no país, deixando para trás Estados Unidos e Reino Unido, que ainda têm maior número absolutos de mortes, respectivamente.

Na última semana o Brasil registrou 7.197 mortes pela covid-19, média de 1.028 por dia, segundo números da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os EUA, que encabeçam a lista de óbitos, contabilizaram nesse período 5.762 mortes, média de 823 por dia. Já o Reino Unido, o 2º lugar, teve em sete dias 1.552 registros, média de 221. O Brasil também bate países onde a curva da doença é ascendente, como o México, com 3.886 mortes na última semana. Após a reinclusão do Brasil no levantamento da Universidade Johns Hopkins, a comparação mostra que o país está cada vez mais perto de se tornar o segundo do mundo com mais mortes pelo novo coronavírus. A previsão é de que amanhã os números brasileiros superem os do Reino Unido. Na frente do ranking continuam os Estados Unidos, com 112.726 mortes. 

Isolamento
De acordo com a última atualização do Ministério da Saúde, sete estados já ultrapassaram a marca de mil óbitos cada. São Paulo encabeça a lista com 9.862 óbitos. Em seguida estão: Rio de Janeiro (7.138), Ceará (4.480), Pará (3.927), Pernambuco (3.531), Amazonas (2.363), e Maranhão (1.322). Juntas, as unidades federativas somam 32.623 mortes, ou seja, 82,2% de todos os óbitos. Apenas Mato Grosso do Sul (MS) registra menos de 100 vidas perdidas no país. Até o momento, o estado soma 24 mortes.

Estado que chegou a ser exemplo no combate à covid e que liderou o ranking brasileiro com maiores índices de isolamento, chegando a registrar 62%, o Goiás começou esta semana a disparar na curva do Centro-Oeste. Ontem, 571 novos casos foram confirmados, somando 7.221 infectados. O número de mortos chegou a 188, com acréscimo de oito fatalidades. Enquanto os índices de isolamento da unidade federativa caíram pela metade, em 10 dias, os números de internação mais que dobraram e, com isso, quase todos os leitos de UTI do estado estão ocupados.

Apesar de ainda registrarem o crescimento dos números da doença, parte do grupo que lidera o ranking de mortes no país também já começou o plano de reabertura de comércio e a flexibilização das regras de isolamento. No entanto, pesquisas relatam uma situação ainda mais dramática, já que constatam que a população começou a circular mais pelas grandes cidades antes mesmo da reabertura.

De acordo com pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz), houve aumento da mobilidade de veículos em cinco regiões metropolitanas — São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Recife (PE), Manaus (AM) e Porto Alegre (RS) —, nas duas últimas semanas. O estudo, que usa sinais de telefones celulares para medir a velocidade do trânsito e a ocorrência de engarrafamentos, constatou que quando começou o isolamento, em meados de março, houve redução do trânsito em todas as cinco cidades.

Especialista em Saúde Pública e vice-diretor do Icict, Christovam Barcellos indica que é importante estudar o comportamento social na pandemia da covid-19 para entender a verdadeira causa da queda das taxas de isolamento. “Nosso sentimento é de que as práticas de investigação epidemiológica vêm se perdendo. É preciso ter agentes de saúde, enfermeiros e médicos de família que conversem mais profundamente com os pacientes e seus contatos, para saber como eles podem ter se infectado, por onde andaram e qual a possibilidade de terem infectado outras pessoas”, avalia.

Nova plataforma do Ministério da Saúde 
Anunciada para entrar em funcionamento na terça-feira, a nova plataforma do Ministério da Saúde ainda não veio a público. A pasta quer passar a registrar as vítimas do novo coronavírus na data do falecimento, e não pela data da confirmação da infecção, afirmou o ministro interino Eduardo Pazuello. Segundo o general, a equipe técnica trabalha em ajustes finos para garantir o lançamento sem necessidade de retirar o site do ar para manutenção. “Foram 20 dias de trabalho. Hoje, nós temos condições de analisar exatamente a progressão de dados todos os dias, todas as semanas, semanas epidemiológicas, até o dia de hoje”, disse, durante reunião ministerial na terça-feira, no Palácio da Alvorada. Após omissão de informação, uma liminar do STF garantiu a retomada dos dados completos da pandemia no site da pasta.