Por trás dos números está uma série de medidas adotadas por prefeitura e governo estadual desde os primeiros casos na região "A situação que temos hoje resulta de toda a condução que fizemos até aqui, com decisões baseadas em evidências científicas", diz o secretário de saúde de Florianópolis, Carlos Alberto Justo da Silva, médico e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). "Como a doença chegou ao Brasil dois meses depois de outros lugares, não precisamos ficar errando por nossa conta: tivemos chance de aprender com os erros dos outros e adotar as melhores práticas."
Silva se refere ao isolamento social precoce e à rápida identificação dos contaminados para evitar o contágio de outras pessoas. Os dois primeiros casos de covid-19 na capital catarinense foram confirmados no dia 12 de março, uma quinta-feira. Na semana seguinte, a prefeitura suspendeu as aulas presenciais nas escolas e universidades, fechou cinemas, teatros, museus, bibliotecas e serviços públicos.
Um decreto estadual determinou o fechamento do comércio não essencial, interrupção do transporte coletivo e proibição de eventos. As pessoas foram proibidas de permanecer em praias, parques e praças.
Assim que as restrições começaram, a prefeitura lançou um serviço gratuito de atendimento telefônico e via internet para tirar dúvidas da população e monitorar as pessoas com sintomas. Já foram feitos 60 mil atendimentos pelo "Alô Saúde".
Os moradores passaram a receber mensagens de SMS quando um caso de covid-19 fosse registrado a menos de 200 metros de sua residência. "As pessoas começaram a perceber que o vírus estava próximo", diz o prefeito Gean Loureiro. "Isso ajudou na conscientização da população, que vem tendo papel fundamental no enfrentamento da pandemia."
Testes
A prefeitura também investiu na compra de testes. "Todo o recurso que recebemos do Ministério da Saúde foi usado para isso", diz o secretário de Saúde. "Começamos a testar todos os casos suspeitos, mesmo com sintomas leves."
A administração municipal investiu R$ 4,5 milhões na compra de 35 mil testes, além de 1,7 mil enviados pelo governo estadual. Desde março, foram realizados 10 mil testes nas redes pública e privada de Florianópolis. Todos os centros de saúde e UPAs da cidade fazem a testagem gratuita da população.
Quem desembarca no Aeroporto Internacional Hercílio Luz passa por uma barreira sanitária e, se estiver com sintomas, é submetido a testes. A equipe do Floripa Airport faz aferição da temperatura, coleta dados dos passageiros e eles assinam termo assumindo o compromisso de fazer isolamento de sete dias. Até agora, foram feitos cerca de 500 testes, que identificaram 17 infectados.
Quem é diagnosticado passa a ser monitorado pela vigilância sanitária e, se descumprir a quarentena, pode ser multado. Desde o início da pandemia, foram aplicadas 41 multas, dez por quebra de isolamento.
A família de Ivonete Helena da Rosa, de 57 anos, cumpriu à risca a quarentena. No fim de maio, enquanto ela estava na UTI, tratando uma lesão pulmonar decorrente da covid-19, a vigilância monitorou e testou pessoas próximas a ela - o marido e a madrinha, que moram na mesma casa, irmãos, sobrinhos, vizinhos e até a família de sua manicure. Todos testaram negativo, mas cumpriram o isolamento.
A empresa onde Ivonete trabalha como auxiliar de limpeza ficou fechada por 15 dias e todos os cerca de 30 funcionários passaram por testes. "Só descobri a doença após desmaiar no trabalho e fui levada para o hospital." Na quinta, voltou a trabalhar.
Hoje, Florianópolis tem 12 pacientes internados com covid-19, cinco em UTI. São 918 casos. O fator de transmissão, próximo de 4 no início da quarentena, está em 0,89, mesmo após a abertura em 20 de abril.
Na capital, os estabelecimentos comerciais ficaram fechados por mais tempo do que no restante do Estado e voltaram com regras rigorosas. Os atendentes devem usar máscara, não é permitido provar roupas nas lojas e só é liberada a entrada de um cliente por vendedor.
"Estamos seguindo tudo à risca, álcool em gel, distanciamento, mas a clientela ainda não voltou", conta Angelita Ramos, gerente de uma loja de roupas no centro da cidade. Duas funcionárias já foram demitidas e três estão com o contrato suspenso.
Saiba Mais
Para ajudar microempreendedores, foi criada linha especial de crédito, com juro zero, que faz empréstimos de R$ 3 mil a R$ 5 mil. Para a população de baixa renda, o auxílio chega por meio de cartão alimentação distribuído a autônomos e famílias de alunos da rede municipal.
As medidas
- Isolamento: O isolamento social começou logo depois que os dois primeiros casos de covid-19 foram confirmados na cidade.
- Rigor: Decreto com a suspensão de aulas presenciais e de eventos foi publicado 4 dias após a primeira confirmação. Transporte público está paralisado há três meses.
- Testagem: A prefeitura investiu R$ 4,5 milhões em testes rápidos. A testagem passou a ser feita mesmo com sintomas leves nas unidades de saúde e no drive-thru montado em um terminal de ônibus.
- Monitoramento: Monitoramento de pacientes que testaram positivo para covid-19, com isolamento e testagem de pessoas próximas. E moradores de rua que tiveram suspeita da doença passaram a ser isolados e testados também.
- Barreira: Barreira sanitária no aeroporto, com medição de temperatura dos passageiros, que têm de ficar isolados por 7 dias.
- Máscara: Uso de máscara passou a ser obrigatório em algumas regiões da cidade e dentro dos estabelecimentos comerciais.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.