O despreparo das unidades de saúde fora das grandes metrópoles para atender a uma pandemia de grandes complexidades assusta. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) exemplifica, em estudo centrado na avaliação da situação do Rio de Janeiro, que a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) para tratamento da doença é mais um problema que atinge os municípios do interior no avanço de transmissibilidade da doença. A análise aponta que a distribuição dos recursos de saúde utilizados no tratamento dos infectados no estado é desigual.
“Uma das principais conclusões é que a região compreendida pela capital e por municípios da Baixada Fluminense concentra, pelo menos, 45% de todos os recursos de saúde estaduais, chegando a responder por mais de 70% dos médicos e enfermeiros intensivistas trabalhando no SUS, marcadamente no município do Rio de Janeiro”, afirma o estudo.
No entanto, a estratégia para garantir atendimento sugerida pela Fiocruz gira em torno, principalmente, da capacidade de interlocução e organização em enviar pacientes para os grandes centros no tempo mais curto possível.
“É evidente que nem todos os municípios do país devem ter um centro de tratamento intensivo, mas é necessário definir serviços de referência e contra referência no atendimento à saúde, evitando vazios de atendimento, bem como deslocamentos longos, que podem afetar o estado de saúde do indivíduo”, alertam pesquisadores na última nota técnica do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict) da Fiocruz, centrada em abordar a velocidade em que o vírus se interioriza.
Estrutura nas capitais
A avaliação é de que em apenas uma semana (de 9 a 16 de maio), nos municípios com população entre 20 e 50 mil habitantes, a cada dia, seis cidades registraram pela primeira vez uma morte pela doença. Entre municípios menores, com população de 10 a 20 mil habitantes, a inclusão foi de cinco cidades a cada dia.
Segundo o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, esse processo é inevitável e está apenas no início. “Vamos precisar de ter as estruturas preparadas nas capitais e regiões metropolitanas para receber esse pessoal do interior, que não tem essa estrutura lá”, ressaltou, durante videoconferência com pesquisadores da Fiocruz nesta semana.
Pazuello indica, inclusive, que as cidades responsáveis pelo atendimento de infectados pelo novo coronavírus terão prioridade no repasse dos R$ 9 bilhões provenientes do Fundo de Reservas Monetárias. A proposta, feita por prefeitos durante a última reunião com dirigentes da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), era fazer a distribuição da verba de acordo com os atendimentos de Alta e Média Complexidade (MAC), em conformidade com os tetos estabelecidos.
“Se a pessoa ficou doente no município pequeno, ela vai ser levada para o tratamento na cidade de maior porte, com estrutura, e que seja mais próxima”, argumentou o presidente da FNP e prefeito de Campinas, Jonas Donizette. Além disso, outra condicionante sugerida foi o repasse para os estados proporcional ao número de infectados. (BL e MEC)