Além do vazio assistencial à saúde que se revela maior para pessoas de baixa renda, a prevalência de comorbidades correlacionadas aos casos graves de covid-19 tornam essa população ainda mais vulnerável. Segundo pesquisa sobre doenças crônicas e fatores de risco do Ministério da Saúde, quanto menor o grau de escolaridade, maior as porcentagens de diabetes, hipertensão, obesidade ou tabagismo.
“Em todos os quatro fatores que estamos trabalhando, a maior vulnerabilidade é dessa população que, muito provavelmente, é de baixa renda, que já é vulnerável por si só”, destacou a coordenadora-geral de vigilância de doenças e agravos não transmissíveis, Luciana Sardinha.
A prevalência da hipertensão em pessoas que tiveram até 8 anos de estudo é de 41,5%. Para quem ficou de 9 a 11 anos na escola, o número cai para 20,5%. Já para grupos com 12 anos ou mais de escolaridade, a hipertensão atinge 14,3%. Entre as quatro doenças crônicas avaliadas, esta é a mais comum, presente em 24,5% dos entrevistados. Nos idosos com mais de 65 anos, este diagnóstico chegou a 59,3%. No entanto, entre 2006 e 2019, o índice geral permaneceu estável.
A coordenadora Luciana atribui esta constância à melhora no atendimento de saúde da ponta. “A gente credita isso à maior procura por diagnóstico médico, maior acesso à atenção primária e à dispensação de medicamentos”.
A obesidade foi a doença que mais aumentou: 72% de incremento em 14 anos, passando a atingir 20,3% da população. Em camadas com menos estudo, esse percentual sobe para 24,2%.
Já na concentração de diabetes nota-se um aumento de 35% na incidência da doença que, em 2006, atingia 5,5% dos brasileiros e, no ano passado, a marca ficou em 7,4%. Em população com até oito anos de escolaridade ficou em 14,8%. Na que tem de 9 a 11 anos de estudo, o índice cai para 5,4%. Já para a parcela que se manteve mais por 12 anos ou mais na escola, o percentual é de 3,5%. Ao avaliar o Brasil como um todo ao longo dos anos, nota-se um aumento de 35% na incidência da doença que, em 2006, atingia 5,5% dos brasileiros e, no ano passado, a marca ficou em 7,4%.
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Covid-19
Em meio à pandemia, o Ministério da Saúde usou o canal da pesquisa, que é feita por telefone, para levantar questões relacionadas ao novo coronavírus. Com dez perguntas, a pasta avaliou a motivação da população em sair de casa frente ao isolamento social.
Das duas mil pessoas entrevistadas entre 25 de abril e 5 de maio, 87,1% relataram ter saído de casa pelo menos uma semana. O índice foi maior no Sul, Sudeste e Centro-Oeste (89,6%) do que no Norte e Nordeste (82,3%). No recorte por idade, pessoas abaixo de 50 anos saíram mais (89,5%) do que acima desta idade (82,6%).
Questionada sobre como o ministério avalia o número de pessoas que estão saindo de casa apontado na pesquisa, Luciana Sardinha afirmou que a pasta não tinha nenhuma expectativa do número.
"Nós não tínhamos uma expectativa desse número porque ela (pesquisa) foi muito rápida. Desde que começou a pandemia a gente começou essa pesquisa. Entregamos os resultados para a nossa assessoria de comunicação para reforçar o que já vinha sendo feito como comunicação oficial do Ministério da Saúde. Não vamos ter uma outra ação diferente, é reforçar o que a gente já vem fazendo nesse período", disse.
A compra de alimentos foi o principal fator, motivando 75,3% dos entrevistados a deixarem o isolamento. Em seguida aparece o trabalho (45%), ida a hospitais e ou farmácia (42,1%), estar cansado de ficar em casa (20,5%) e ajudar a familiar ou conhecido (20,2%).
Cuidados para se prevenir contra a covid também foram questionados. O Ministério da Saúde observou, inclusive, um aumento na higienização das mãos e dos objetos tocados. No primeiro ciclo da pesquisa, 82,7% das pessoas relataram estar realizando a prática. Já no segundo ciclo, esse índice subiu para 84,6%. A medida é mais seguida pelas mulheres (88,6%) do que pelos homens (80,2%)
Em meio à mudança de rotina, os principais incômodos também foram questionados. 41,7% relatou problemas com sono, seja dormir muito ou pouco, 38,7% pontuaram falta de apetite ou vontade maior de comer, 32,6% afirmaram se sentir deprimidos e 30,7%, cansados.