Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que mais de 5 milhões de domicílios estão localizados nos chamados aglomerados subnormais — caracterizados por um padrão urbanístico irregular, falta de serviços públicos essenciais e localização em áreas com ocupação irregular. São justamente as cidades com mais favelas que registram mais casos de infectados pelo novo coronavírus no Brasil; 64,93% das áreas carentes ficam a menos de 2 quilômetros de hospitais.
Entre os estados com maior proporção de domicílios em aglomerados está o Amazonas, com 34,59%. Também no Norte, Belém, capital do Pará, tem mais da metade das habitações em locais precários, 55,5%. Ainda na região, três em cada quatro moradores do município de Vitória do Jari, no Amapá, vivem nessa realidade.
Para Pedro Augusto Ponce, doutor em Ciências Políticas e professor da Estácio Brasília, “a disseminação da doença já chegou aos extratos mais pobres da população e começa a ficar evidente os problemas da desigualdade social”. O Norte do Brasil é a região com a maior incidência da covid-19 proporcionalmente à população, com 277,3 infectados por 100 mil habitantes. É também onde se registra a mortalidade mais alta, com média de 18,5 mortes por 100 mil.
A Rocinha, no Rio, é o maior aglomerado subnormal do país, com 25.742 domicílios. Em seguida, vêm a comunidade do Sol Nascente, no Distrito Federal, com 25.441 casas.
Conforme o levantamento, das 13.151 mil moradias, somente 827 (6,29%) estavam a mais de cinco quilômetros de unidades de saúde com suporte de observação e internação. O restante fica bem mais próximo de um hospital. Raimundo Vinicius de Sousa, primeiro-secretário da Associação de Moradores da Rocinha, afirma que apesar da existência de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) dentro da maior favela do Brasil, as condições de atendimento são precárias. “As pessoas estão se dirigindo até lá. Quando consta que elas estão doentes, ou é feita a transferência, ou os pacientes morrem lá”, afirma.
Secretária substituta da Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Governo Federal, Daniela Ribeiro foi questionada, ontem, em coletiva de imprensa, sobre as ações realizadas pelo Ministério da Saúde voltadas a populações vulneráveis. “Para algumas dessas, estamos fazendo parceria também com o Ministério da Cidadania. Temos ações em curso e outras que já estão em processos e em vias de serem publicadas”, respondeu Daniela Ribeiro, sem especificar quais seriam as ações, os investimentos ou os territórios a serem atendidos.
* Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro
Norte tem maior proporção
Entre os estados, o Amazonas (34,59%) tem a maior proporção de domicílios em ocupações irregulares. Em seguida, figuram o Espírito Santo (26,1%), Amapá (21,58%), Pará (19,68%) e o Rio de Janeiro (12,63%). Em São Paulo, 7,09% dos domicílios estão nessas localidades. O município de Vitória do Jari, no Amapá, tem 74% dos domicílios localizados em aglomerados subnormais. Na cidade vivem 15,9 mil pessoas. Belém e Manaus têm mais da metade dos domicílios em ocupações irregulares, 55,5% e 53,3%, respectivamente.