Desde a confirmação do primeiro caso do novo coronavírus no Brasil, em 26 de fevereiro, o país levou 74 dias para confirmar 10 mil mortes por covid-19. Número difícil de traduzir diante da dor de familiares e amigos. Se comparado, é 140 vezes maior que o número de vítimas no acidente aéreo com o time da Chapecoense, em 2016; e 41 vezes as perdas no incêndio da boate Kiss, em 2013; ou ainda três vezes maior que o atentado do 11 de setembro nos Estados Unidos, em 2001. A dura realidade dos últimos dois meses e meio, no país, porém, deverá ficar ainda pior na próxima semana, quando o Brasil pode chegar a 20 mil óbitos. Segundo uma estimativa do portal Covid-19 Brasil, que reúne pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Brasília (UnB), o país ultrapassará os 21,1 mil óbitos em 20 de maio. Até ontem, segundo dados do Ministério da Saúde, 11.519 brasileiros perderam a vida pela doença, 396 a mais que domingo. Nas últimas 24h, foram 5.632 novos registros de pessoas infectadas, chegando a 168.331 casos confirmados.
O cálculo do grupo Covid-19 Brasil é feito por meio de modelo matemático exponencial para os 10 dias seguintes à marca dos 10 mil óbitos, ultrapassada no sábado. A análise indica, ainda, que no dia 20 haverá cerca de 320 mil infectados. Em outra metodologia de projeção, os mesmos pesquisadores estimam que, devido à falta de testagens em massa, o número real de brasileiros que contraíram a doença pode ser 16 vezes maior do que se tem nos balanços oficiais. No sábado, enquanto a pasta de Saúde divulgava o montante de 155.939 casos da doença, o portal calculava que o número variava entre 1,8 milhão e 2,5 milhões.
“As taxas de letalidade (no Brasil e no mundo) têm variado, especialmente, pela incerteza sobre a quantidade total de pessoas infectadas, o que se dá, especialmente, pela falta de disponibilidade de testes de confirmação da infecção pela covid-19, produzindo discrepâncias importantes no cenário internacional”, diz o relatório. A consequência, para os especialistas, é a “dificuldade na elaboração de políticas públicas para conter o vírus, o que deixa a probabilidade de uma flexibilização do isolamento cada vez mais incerta.”
Sexto lugar
Dos países com mais de 20 mil infectados, o Brasil é um dos piores em relação a testagem por 1 milhão de habitantes. Somente Paquistão, Índia e México, de um total de 27 na lista, tem capacidade menor do que a brasileira em relação a diagnóstico de casos. Brasil é o sexto país com maior quantidade de mortes pela covid-19 no mundo, atrás dos Estados Unidos (78.320), Reino Unido (31.662), Itália (30.395), França (26.313) e Espanha (26.299). Os números foram levantados pela Universidade Johns Hopkins, referência mundial em pesquisas de coronavírus.
Segundo o geógrafo e sanitarista Christovam Barcellos, vice-diretor de Pesquisa do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz), o fator de crescimento da doença no Brasil tem sido parecido ao observado no início da pandemia na Itália. A evolução da pandemia no país, porém, depende de vários fatores, principalmente, da adesão ao isolamento social.
“Nas próximas semanas, o Brasil pode mudar de tendência devido a medidas específicas que estão sendo tomadas em cada estado e município”, pondera Barcellos. Já na próxima segunda-feira (18), o Brasil deve chegar a 18.292 mortes por covid-19. A estimativa é calculada pela MonitoraCovid-19, ferramenta virtual criada pelo Icict/Fiocruz para monitorar a pandemia e sua tendência por estados e municípios brasileiros. Se a previsão se confirmar, a quantidade terá dobrado em 11 dias.
É com base no último período de duplicação de casos/óbitos do país que a ferramenta calcula a tendência de evolução da pandemia. Se o país demorou 5 dias para duplicar os casos, por exemplo, o modelo assume comportamento linear e projeta um novo intervalo de tempo para a duplicação em cinco dias, distribuindo os casos igualmente para esse período.
Entre as capitais brasileiras, São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus viram a quantidade de mortes por covid-19 dobrar cinco vezes desde o início da pandemia.