Os dados mostram uma grande disposição em cumprir o distanciamento comunitário de habitantes da Grande BH entrevistados pela pesquisa “Termômetros da crise COVID-19”, do Instituto Olhar, Netquest e UFMG, divulgada semanalmente pelo Estado de Minas. A tolerância ao isolamento acima do que prefeituras como a da capital demonstram programar (meados de julho, por enquanto) seria reflexo de uma redução da preocupação com os efeitos da pandemia no orçamento familiar e de um temor maior do contágio pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), como pode ser visto nesta quinta semana de entrevistas, conduzidas entre 30 de abril e a última terça-feira.
“No início, as pessoas estavam muito preocupadas com a perda de renda, se ficariam sem o salário e como poderiam pagar suas contas. Acontece que já estão percebendo que as contas também se reduziram. Sobretudo gastos com transporte, escola. Tudo isso trouxe essa percepção de que o isolamento pode ser estendido para manter o controle da doença”, destaca o sócio-diretor do Instituto Olhar, professor Matheus Lemos de Andrade, que é doutor em administração.
A menor tolerância refletida pela expectativa de idosos dentro do grupo de pessoas com ensino médio completo se daria por uma estafa natural, segundo avaliação do diretor do Instituto Olhar. “Essa faixa, por ser considerada um grupo de risco, foi a que se comprometeu com um isolamento mais rígido. Por esse motivo, é natural que já esteja mais desgastado com esse afastamento e queira voltar às suas atividades antes dos demais”, afirma Andrade.
A pesquisa foi realizada com 492 pessoas e tem margem de erro de 4,5 pontos. O intervalo de confiança dos dados é de 95%. Os entrevistados emitiram notas de zero a 10, traduzidas depois em termômetros com os parâmetros de apoio ao isolamento social, medo da infecção, desempenho dos governos no enfrentamento à pandemia e comprometimento econômico.
O apoio ao isolamento social se encontra em seu índice mais alto desde o início da pesquisa, há cinco semanas, com nota 8,7. Já o apoio a essa medida como forma de controlar a transmissão da doença também chegou ao nível mais elevado, com pontuação de 8,8, ante 8,4 da semana anterior e 8,6 da terceira série de levantamentos, que indicava, até então, a maior nota, 8,6.
Emergência
A confiança no isolamento praticado por familiares e amigos permaneceu no índice mais baixo (7,8) e o isolamento praticado se manteve muito alto, com nota 9,6. Foi a pesquisa em que mais pessoas deram nota 10 para o apoio ao isolamento, com 66,2% dos pesquisados. A confiança no afastamento praticado pelos outros reúne 76,4% dos entrevistados com notas bem distribuídas entre 7 e 10.
Do universo dos entrevistados, 12,7% declararam que exercem atividade essencial e por isso precisam deixar a residência com frequência e se expôr à possibilidade de contaminação pelo novo coronavírus. O nível de isolamento irrestrito das pessoas que só saem em verdadeiras emergências chega a 11,5% das pessoas ouvidas. O grupo mais numeroso é o de quem deixa seu domicílio apenas para atividades essenciais, de 69,2%. Quem apenas reduziu o contato social soma 5,6%, enquanto 1% não mudou sua rotina normal.
Ao longo dos levantamentos o termômetro da economia chegou a ser o mais notável, com 9,1 pontos na primeira semana da pesquisa, demonstrando a preocupação dos entrevistados com a situação financeira. Mas esse temor se reduziu e, atualmente, mostra nota 8,8, na prática, empatado com o apoio ao isolamento social, que marcou 8,7 nesta série. A preocupação maior é com a economia nacional, com 9,4 pontos, e a menor com as contas da família, chegando a 7,2. Do total de entrevistados, 1,6% perdeu o emprego devido à pandemia, ao passo que 61,9% afirmam que sua renda foi reduzida. Para a maioria, a perda de poder financeiro está no patamar entre 10% e 20% da renda.
Temor chega ao ponto máximo
O medo do novo coronavírus vem crescendo e atingiu seu mais alto patamar na Grande BH, de acordo com a pesquisa “Termômetros da crise COVID-19”, com 8,3 pontos. Os mais preocupados com a doença são as mulheres, com nota 8,7, ante 7,8 dos homens, e os mais jovens, que marcaram 8,7, perante 8,2 dos idosos acima de 60 anos, ainda que seja esse o grupo de maior risco etário. O medo em BH é consideravelmente maior que na região metropolitana, onde foi destaque a nota 8,4, contra 7,7. Os mais pobres, das classes D e E, registraram 8,6 pontos para o receio de ter a infecção, nível superior ao das classes C, com 8,1, e B, com 8, enquanto os mais ricos, da classe A, são os que menos temem a doença, com 7,8.
“O medo está alto, mas os trabalhos estão sendo bem-sucedidos no achatamento da curva de contágios e isso traz confiança. Esse resultado, não sabemos se por isolamento ou pela demografia, traz esse sentimento de um equilíbrio entre os termômetros do medo da doença e o medo de a economia ser afetada. Antes a economia era uma incerteza, assim como o contato com a doença. Hoje, são uma parte mais próxima, mais real. Com isso, a preocupação com a doença cresceu devagar e equilibrou essas duas perspectivas", observa o sócio-diretor do Instituto Olhar, professor Matheus Lemos de Andrade.