Diferentemente, os idosos, com ensino médio completo, que cumprem a reclusão mais severa por participar do grupo de risco da covid-19, concordam em ficar afastados por menos tempo, aceitando a duração de 11,4 semanas, prazo que se estende até 8 de junho. Em geral, os habitantes de BH e região metropolitana aceitam se isolar por 16,7 semanas. Contado desde 20 de março, esse prazo seria até 14 de julho.
Os dados mostram uma grande disposição em cumprir o distanciamento comunitário de habitantes da Grande BH entrevistados pela pesquisa “Termômetros da crise COVID-19”, do Instituto Olhar, Netquest e UFMG, divulgada semanalmente pelo Estado de Minas. A tolerância ao isolamento acima do que prefeituras como a da capital demonstram programar (meados de julho, por enquanto) seria reflexo de uma redução da preocupação com os efeitos da pandemia no orçamento familiar e de um temor maior do contágio pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), como pode ser visto nesta quinta semana de entrevistas, conduzidas entre 30 de abril e a última terça-feira.
“No início, as pessoas estavam muito preocupadas com a perda de renda, se ficariam sem o salário e como poderiam pagar suas contas. Acontece que já estão percebendo que as contas também se reduziram. Sobretudo gastos com transporte, escola. Tudo isso trouxe essa percepção de que o isolamento pode ser estendido para manter o controle da doença”, destaca o sócio-diretor do Instituto Olhar, professor Matheus Lemos de Andrade, que é doutor em administração.
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A pesquisa foi realizada com 492 pessoas e tem margem de erro de 4,5 pontos. O intervalo de confiança dos dados é de 95%. Os entrevistados emitiram notas de zero a 10, traduzidas depois em termômetros com os parâmetros de apoio ao isolamento social, medo da infecção, desempenho dos governos no enfrentamento à pandemia e comprometimento econômico.
O apoio ao isolamento social se encontra em seu índice mais alto desde o início da pesquisa, há cinco semanas, com nota 8,7. Já o apoio a essa medida como forma de controlar a transmissão da doença também chegou ao nível mais elevado, com pontuação de 8,8, ante 8,4 da semana anterior e 8,6 da terceira série de levantamentos, que indicava, até então, a maior nota, 8,6.
Emergência
A confiança no isolamento praticado por familiares e amigos permaneceu no índice mais baixo (7,8) e o isolamento praticado se manteve muito alto, com nota 9,6. Foi a pesquisa em que mais pessoas deram nota 10 para o apoio ao isolamento, com 66,2% dos pesquisados. A confiança no afastamento praticado pelos outros reúne 76,4% dos entrevistados com notas bem distribuídas entre 7 e 10.
Do universo dos entrevistados, 12,7% declararam que exercem atividade essencial e por isso precisam deixar a residência com frequência e se expôr à possibilidade de contaminação pelo novo coronavírus. O nível de isolamento irrestrito das pessoas que só saem em verdadeiras emergências chega a 11,5% das pessoas ouvidas. O grupo mais numeroso é o de quem deixa seu domicílio apenas para atividades essenciais, de 69,2%. Quem apenas reduziu o contato social soma 5,6%, enquanto 1% não mudou sua rotina normal.
Ao longo dos levantamentos o termômetro da economia chegou a ser o mais notável, com 9,1 pontos na primeira semana da pesquisa, demonstrando a preocupação dos entrevistados com a situação financeira. Mas esse temor se reduziu e, atualmente, mostra nota 8,8, na prática, empatado com o apoio ao isolamento social, que marcou 8,7 nesta série. A preocupação maior é com a economia nacional, com 9,4 pontos, e a menor com as contas da família, chegando a 7,2. Do total de entrevistados, 1,6% perdeu o emprego devido à pandemia, ao passo que 61,9% afirmam que sua renda foi reduzida. Para a maioria, a perda de poder financeiro está no patamar entre 10% e 20% da renda.
Temor chega ao ponto máximo
O medo do novo coronavírus vem crescendo e atingiu seu mais alto patamar na Grande BH, de acordo com a pesquisa “Termômetros da crise COVID-19”, com 8,3 pontos. Os mais preocupados com a doença são as mulheres, com nota 8,7, ante 7,8 dos homens, e os mais jovens, que marcaram 8,7, perante 8,2 dos idosos acima de 60 anos, ainda que seja esse o grupo de maior risco etário. O medo em BH é consideravelmente maior que na região metropolitana, onde foi destaque a nota 8,4, contra 7,7. Os mais pobres, das classes D e E, registraram 8,6 pontos para o receio de ter a infecção, nível superior ao das classes C, com 8,1, e B, com 8, enquanto os mais ricos, da classe A, são os que menos temem a doença, com 7,8.
“O medo está alto, mas os trabalhos estão sendo bem-sucedidos no achatamento da curva de contágios e isso traz confiança. Esse resultado, não sabemos se por isolamento ou pela demografia, traz esse sentimento de um equilíbrio entre os termômetros do medo da doença e o medo de a economia ser afetada. Antes a economia era uma incerteza, assim como o contato com a doença. Hoje, são uma parte mais próxima, mais real. Com isso, a preocupação com a doença cresceu devagar e equilibrou essas duas perspectivas", observa o sócio-diretor do Instituto Olhar, professor Matheus Lemos de Andrade.
A atuação dos governos, em declínio desde o início da pesquisa, segue com a nota mais baixa, de 5,5, puxada pelo governo federal, cujas ações desagradam cada vez mais às pessoas ouvidas, chegando à pior pontuação, de 3 pontos, ante 3,9 da última pesquisa. O fraco resultado influenciou no resultado geral, mesmo o governo estadual ficando estável na pontuação recebida, de 5,4 para 5,5. A avaliação das ações das prefeituras apresentou melhora substancial, de 7,4 para 8,1. Ao todo, 46,2% das pessoas deram nota zero para o desempenho do governo federal nessa pandemia, enquanto 44% deram nota máxima para as prefeituras. O governo Zema concentra 52,5% das notas entre 5 e 8.