Enquanto o atual ministro da Saúde, Nelson Teich, desenha diretrizes de combate à Covid-19 com foco no olhar para as peculiaridades de cada estado e município, gestores da saúde reclamam da falta de interlocução durante o processo de transição. Desde a saída de Luiz Henrique Mandetta da liderança da pasta, as conversas diárias com os secretários foram interrompidas, condução avaliada como contraditória em relação às propostas de entender o contexto de cada região para adotar medidas específicas. Na coletiva de ontem, Teich prometeu uma nova reunião ainda esta semana.
Apesar da falta de diálogo e ainda que em ritmo de transição, a nova gestão do Ministério da Saúde mostra, para além das movimentações internas, os primeiros sinais de que começa a tomar forma. Ontem, a pasta fez a primeira coletiva presencial técnica, repassando o balanço de casos no Brasil. Ainda na função de secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, dividiu a bancada com as novas representações. Além de Teich, o novo secretário-executivo, Eduardo Pazuello, participou da atualização.
“O nosso objetivo é mostrar as informações que usamos no dia a dia para enxergar o problema e tomar decisão. Melhorar capacidade de entregar e reagir”, definiu Teich. O plano consiste em entender quais são os principais gargalos e locais com mais fragilidade para poder direcionar os recursos de acordo com a demanda. No entanto, lideranças de São Paulo, estado com maior número de mortes e casos, afirmaram não ter conseguido alinhar as demandas junto ao ministro.
O governador João Doria se posicionou, dizendo que os governadores e secretários do Sul e Sudeste, “região notoriamente sabida a mais afetada”, aguardam uma videoconferência. Segundo o secretário de Saúde de SP, José Henrique Germann, a pasta pediu uma reunião e espera confirmação desde 17 de abril. “Nós não tivemos ainda nenhum contato com o novo ministro. Nos colocamos para a agenda, para poder ter algum contato", disse Germann que, mesmo em meio à ausência de resposta, evitou fazer críticas. "Acredito que iniciar a atividade em um ministério não é de pouca monta”, ponderou.
Incumbido em dar aplicabilidade às estratégias definidas pelo ministro, Pazuello frisou, na coletiva, que a intenção, a partir de agora, é levar em consideração as diversidades de cada região para poder fazer a distribuição de recursos em um modelo não-linear. “Temos cidades que estão precisando de ação mais imediatas como Manaus, Belém, Fortaleza e Rio de Janeiro. Essa ação sempre será: planejamento centralizado, execução descentralizada e integrada entre estado e municípios”.
Para isso, a observação de como se comporta a doença em cada área precisa ser atenta. “Quando migrar para outro local, recolhem-se meios para direcionar às novas demandas”, explicou Pazuello que, para facilitar essa comunicação, contou que trouxe para dentro do prédio sede do ministério o centro de operação de emergência, partição que recebe as demandas de cada estado e município.
Estratégias
Alinhado com o pedido do presidente Jair Bolsonaro, a intenção de Teich é aliviar as medidas de restrição. No entanto, isso não será feito às custas da segurança. “Não vai existir qualquer medida intempestiva em relação ao isolamento social. O Brasil é um país heterogêneo e certamente a gente vai ter medidas diferentes em diferentes regiões do país. Isso tudo vai ser trabalhado no detalhe. Não vai ter nenhum tipo de ação que não tenha sido pensada”, garantiu.
Para que a população possa entender como os números refletem nas tomadas de decisão, a intenção do Ministério da Saúde é destrinchar os dados. “Não dá para colocar números de forma rápida e superficial, é importante detalhar mais. Por isso, daqui para frente, sempre teremos uma discussão técnica para falar com mais detalhes tudo o que a gente apresentar", prometeu Teich. O ministro pretende consolidar uma metodologia junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para dar peso às análises.
O foco imediato, segundo Teich, é garantir infraestrutura necessária para que as pessoas sejam cuidadas e tratadas. “Nesse momento, cuidar das pessoas e salvar o maior número possível de vidas é a prioridade absoluta. A gente vai ter um trabalho intenso com estados e municípios e, essa semana, vamos ter reunião com os governadores”. O novo desenho que estabelece como cada local deve se comportar diante dos cenários deve sair nos próximos dias e é baseado na estratégia anterior. A diretriz promete ser mais dinâmica, trazendo respostas mais ágeis e diferenciadas para cada localidade.
Pasta repaginada
Mudanças das diretrizes para enfrentamento da Covid-19
» Modelo não-linear
» Planejamento centralizado no Ministério da Saúde
» Execuções descentralizadas em cada localidade
» Detalhamento e análise de dados
» Mudanças mais rápidas de estratégia
» Distribuição de recursos de acordo com a demanda
» Desburocratização entre comunicação e resposta