Teich defendeu uma diretriz para que estados e cidades possam retornar do isolamento, e reforçou que não há como um país sobreviver um ano parado. “É impossível. Isso é o que gente vai desenhar e dar suporte para estados e municípios”, adiantou. O ministro pretende entregar a diretriz em uma semana.
Apesar de defender o relaxamento do distanciamento social, Teich ponderou que, por ser uma doença nova, com trajetória desconhecida, também haverá ações que permitam recuar das liberações em caso de necessidade.
“Nossos números são um dos melhores (em comparação com outros países). Qual o problema da Covid? Assusta porque acomete muito rápido o sistema. E os sistemas de saúde não são feitos para ter ociosidade. Têm de trabalhar com eficiência máxima. Os hospitais trabalham no limite. Quando tem algo que sobrecarrega o sistema, é quase impossível conseguir se adaptar na velocidade necessária”, disse o ministro, deixando claro que pode recomendar o retorno para a quarentena caso os números piorem com a flexibilização.
Secretário-executivo
Teich também confirmou como braço-direito o general Eduardo Pazuello, que já integrava a equipe de transição. O foco do novo secretário-executivo da Saúde é tirar do papel as estratégias a serem definidas na pasta. “Estamos falando de logística, de compra, de distribuição, e ele é uma pessoa muito experiente nisso. Vai trazer uma contribuição para quem corre contra o tempo”, explicou.Sem experiência na vida pública, assim como Teich, o nome de Pazuello é visto como mais um movimento de Jair Bolsonaro para controlar o Ministério da Saúde e impor sua visão contra o isolamento social — uma das razões que o levou a demitir Luiz Henrique Mandetta. A hierarquia própria da carreira militar daria a segurança ao presidente de que a condução não seria desviada daquilo que pretende.
A nomeação de Pazuello gera dúvidas sobre as reais intenções e os possíveis riscos, num momento em que a pasta tem protagonismo. “A estabilidade do Ministério depende do alinhamento a Bolsonaro, um governo que espera dos seus ministros posição de subserviência”, avaliou o Michael Mohallem, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Direito Rio.
A questão de ocupação do espaço político pelos militares eleva esta hipótese. “Uma coisa é escolher o melhor perfil e, depois, observar que, coincidentemente, se tratava de um militar. O que não parece ter sido a lógica. Primeiro se escolheu o militar, para depois analisar, dentro dos perfis, qual mais se encaixava. Parece ser um olhar não para o problema, mas para a acomodação política”, explicou Mohallem.
Mesmo quando as indicações não se baseiam no fortalecimento de alianças partidárias, é comum que o ministro escolha seu secretário-executivo, função de confiança e que reflete alinhamento. Nesse sentido, a indicação de Bolsonaro pode ser outro ponto de conflito. “É importante que haja sintonia, uma boa articulação. Há uma dúvida em relação a isso”, pontuou o professor.
A desvinculação partidária das duas principais peças do ministério mais importante no atual cenário é vista como estratégica pelo cientista político Sérgio Praça, professor da Universidade de São Paulo (USP). “Isso pode facilitar o diálogo com governadores, desde que seja reconhecida a capacidade de gestão e desde que o general não se revele muito mais conservador que a média das Forças Armadas, o que não me parece”, observou. Segundo Praça, o olhar para as articulações externas e o alinhamento com o presidente podem diminuir os ruídos e trazer avanço nas soluções.