Brasil

Remédio 'secreto' de Pontes é ineficaz





O medicamento secreto contra o novo coronavírus, alardeado pelo ministro Marcos Pontes, da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, nesta semana, já foi testado por cientistas chineses –– e com péssimos resultados. O princípio ativo nitazoxanida se mostrou pouco efetivo e mais tóxico do que outras drogas, segundo artigos publicados naquele país. Para especialistas brasileiros, é preciso fazer estudos clínicos para comprovar o efeito do remédio no tratamento da Covid-19.

Depois de anunciado por Pontes, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma norma proibindo a venda de medicamento à base de nitazoxanida sem receita médica especial. A droga é comercializada em forma de vermífugo, com o nome de Annita.

O infectologista Julival Ribeiro, que está lendo todos os artigos publicados sobre a nitazoxanida, ressaltou que a pesquisa é inicial. “Mas já mostrou que deu problema de maior toxidade. Até agora, não tem nada dizendo que a droga deve ser usada para tratar o coronavírus”, ressaltou. O especialista disse que vai aguardar os estudos clínicos, randomizados e duplo cego (quando não se sabe em quem foi administrada a droga ou o placebo).

A médica infectologista Eliana Bicudo, assessora da Sociedade Brasileira de Infectologia, disse que existe um estudo em fase inicial, já em curso, para pacientes não graves. “Essa conversa de 94% de eficácia in vitro não é nada científica. A gente não pode divulgar essa eficácia”, alertou, criticando Pontes. Segundo ela, é apenas mais uma droga em estudo, porque tem ação antiviral. “É indicada para diarreia provocada por rotavírus”, explicou.

A especialista destacou que os testes têm de ser bem trabalhados. “Os estudos serão em pacientes não graves. Aquele internado no leito, com oxigênio nasal, e não os graves, que estão na UTI”, ressaltou. “Se a gente quiser alguma informação, só no fim de maio”, assinalou.

Eliana lembrou que todos os países estão estudando qualquer coisa que teve alguma resposta na gripe aviária. “Tudo que já se pensou em estudar está sendo retomado agora frente a essa letalidade. Não é uma droga para se ficar cheia de esperança”, alertou.