Brasil

Transição em mau momento



Quando cada minuto conta na batalha travada contra um inimigo invisível, o fato de os holofotes serem direcionados para o discurso de posse de Nelson Teich no Ministério da Saúde, enquanto a atualização dos números ficava em segundo plano, mereceu críticas de especialistas do campo da saúde. O embate político em meio à pandemia é visto como um atraso que pode dificultar o combate ao novo coronavírus.

Criador da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o médico Gonzalo Vecina ataca o momento da mudança no comado da pasta. “É uma epidemia real, que toma o controle da situação cada vez mais. Está se fazendo filas de corpos pelos corredores dos hospitais de Manaus e o mesmo já começa a se desenhar no Ceará. Uma transição é um obstáculo a mais”, lamentou.

Além da atuação na linha de frente da Anvisa, Vecina foi secretário municipal de Saúde de São Paulo e de Vigilância Nacional pelo Ministério da Saúde. Pela atuação na área, conhece o currículo de Teich e assegura que o novo ministro é um excelente profissional na área que atua, apesar de não ter experiência em gestão pública.

A suposta inexperiência de Teich com a política é um aspecto estratégico da função de ministro e, portanto, um desafio. “Não ser partidário pode trazer um terreno mais neutro para trabalhar. O desafio é conquistar o espaço e fortalecer vínculos”, apontou.

Para o sanitarista e coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Brasília, Cláudio Maierovitch, independentemente do discurso do novo ministro, a mudança feita por Bolsopnaro é uma mensagem à sociedade de que ele quer alguém que obedeça e esteja alinhado à posição política que tem sobre a pandemia.

“Qualquer pessoa que viesse para essa posição, viria com a cláusula contratual de que não deve contrariar o presidente. Isso é preocupante, porque Bolsonaro tem sido contrário às orientações técnicas e ao conhecimento científico. O Nelson tinha sido indicado lá atrás, antes do Mandetta ser escolhido. É bem possível que se tivesse assumido, tivesse feito o mesmo papel do Mandetta. E seria ele o demitido”, previu.

Infectologista do Hospital Brasília, Ana Helena Germoglio avalia que, até aqui, Mandetta teve ações técnicas e corretas. Assim, espera que as medidas do Ministério se mantenham na mesma linha. (BL, MEC e ST)