O número de pessoas que contraíram o novo coronavírus no Brasil ultrapassou os 30 mil e não há previsão para que os índices parem de crescer. Registrados, ontem, no sistema do Ministério da Saúde, 30.425 casos foram confirmados, um incremento de 6,9% em um dia. As mortes subiram de 1.736 para 1.924, ou seja, 188 novas fatalidades. Em cinco estados os óbitos já superaram a casa dos 100 e, juntos, somam mais de 80% das perdas.
O estado de São Paulo continua liderando o ranking de confirmações e mortes, em números absolutos, registrando 11.568 doentes e 853 fatalidades. Rio de Janeiro (300), Pernambuco (160), Ceará (124) e Amazonas (124) completam o ranking do cinco estados mais críticos. A equipe técnica do Ministério da Saúde pontuou que a densidade demográfica e a sazonalidade para circulação de vírus que desencadeiam síndrome respiratória aguda grave (SARS), no Norte e em parte do Nordeste, são fatores que propiciam esse quadro.
Pesquisadores da Rede CoVida, iniciativa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA), indicam que, até 23 de abril, o Brasil pode ultrapassar 67,5 mil casos da doença. O grupo dos estados com mais mortes também lidera o ranking nas projeções de casos. Até a data, São Paulo pode chegar a 25 mil doentes; Rio, 8,9 mil; Pernambuco, 5,9 mil; Ceará, 5,3 mil; e Amazonas, 4,6 mil infectados. “Vemos, nos nossos modelos, que a fase da epidemia pode estar na transição para fase de aceleração descontrolada”, diz Pablo Ivan Ramos, bioinformata e um dos coordenadores do grupo de modelagem matemática da Rede CoVida.
Com a transmissão comunitária cada vez mais predominante no país, outros estados caminham para este cenário. A partir das indicações, os argumentos de que, no Brasil, a epidemia seria diferente porque faz sol e calor se revelam como uma “falsa percepção”, como afirma o biólogo molecular da Dasa, grupo do Laboratório Exame, José Eduardo Levi. “Observando a situação do Ceará, Manaus e do Rio, essa hipótese cai por Terra”.
A recomendação do especialista é de reforço das ações de distanciamento social. “Mesmo nos estados em que se adotou medidas de isolamento com certa antecedência, ainda não foi possível estabilizar a curva. Isso revela duas coisas: que o cenário estaria muito pior, hoje, sem essas ações, com possível colapso do sistema; e que as pessoas precisam colaborar mais intensamente, pois as restrições não estão funcionando 100%. Aos gestores, é necessário que avaliem a necessidade de intensificar ou não as medidas”, avalia Levi.