Correio Braziliense
postado em 16/04/2020 08:01
Circula pela internet mensagem que recomenda a retirada de capachos na frente de portas, carpetes e tapetes em geral para barrar a disseminação do novo coronavírus. A indicação é de que são verdadeiros criadouros do micro-organismo. O alerta vem principalmente da constatação de que o vírus consegue sobreviver em algumas superfícies – dependendo do material, entre algumas horas ou por até vários dias.A atenção é para que pisos de superfícies macias e porosas, como é o caso desses tecidos, sejam limpos separadamente com produtos específicos, como desinfetante, mas também vale água e sabão. Muitos têm orientado sobre a colocação de pano úmido com água sanitária na entrada da casa. Há quem aconselhe a remoção desses elementos, mas há também quem ache essa preocupação um tanto desmedida. Consenso mesmo é sobre não entrar de sapato em casa, e evitar o contato com os tapetes.
A importância de manter o tapete limpo encontra motivos em diferentes situações da rotina. Em casa onde vivem crianças ou animais de estimação, por exemplo, com o costume dos pequenos em rolar nos tapetes, se houver alguma carga de contaminação nessa superfície, é um ponto a se observar. É o que explica o virologista Flávio da Fonseca, professor e pesquisador do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Ainda assim, essa é uma circunstância muito específica. “Por exemplo, uma pessoa que não está em quarentena e precisa sair à rua, pisa em alguma coisa, como um escarro ou uma cusparada, e esse material está contaminado, leva isso para casa e pisa no tapete, necessariamente transfere a contaminação para o tapete. E uma criança que rola no tapete pode acabar encostando. Aqui estamos falando do que a gente pode conduzir com o sapato”, esclarece.
Mas, como pontua o virologista, tudo isso aconteceria por uma série de coincidências infelizes – mesmo assim, deve haver precaução sobre esse problema também. “Um vírus no chão, onde o sapato pode ser contaminado, vive muito pouco. Exposto ao ambiente, em cima do asfalto, que tem temperatura elevada, com a incidência da radiação ultravioleta, quase não sobrevive. Mas se alguém cuspiu, outra pessoa pisa e, em um espaço curto de tempo, leva para casa, essa possibilidade de infecção é real”, diz. O tapete, continua, funciona como qualquer superfície porosa, como qualquer tecido. “Com a porosidade, se for um meio com um fluido biológico, pode proteger o vírus, que pode se entranhar na malha do tapete.”
Flávio explica que, propriamente quanto aos tapetes, não conhece estudos que falem sobre o período de sobrevivência do coronavírus. Entretanto, em analogia com trabalhos sobre tecidos, já foi constatado um tempo de sobrevida para o micro-organismo entre 48 horas até seis dias, intervalo em que pode permanecer infeccioso.
Combinação nociva
Quanto à higienização, qualquer saponáceo que tenha aplicação para tapete é eficiente – a atenção deve ser para produtos que possam danificar o tapete, como água sanitária e outros químicos. Para o virologista, é desnecessário retirar todos os tapetes do ambiente. “É uma situação muito particular. Colocar um pano com água sanitária na porta de casa é mais adequado.” Não entrar com o sapato é outra recomendação pertinente.
A infectologista da Cia. da Consulta Susanne Edinger lembra que tapetes não são higiênicos. São fontes de proliferação de ácaros e outros resíduos. “Com os sapatos, também carregamos uma série de impurezas da rua para dentro de casa. A combinação entre tapetes e sapatos é nociva, o que já de longa data é sabido. Em tempos de pandemia, acabamos por nos dar conta de detalhes que até então pareciam invisíveis”, diz.
Ela ressalta que a limpeza dos tapetes deve ser regular, da mesma forma como é feito com artigos de banho. “A recomendação não é extingui-los, mas higienizá-los. O envelope viral é sensível a água e sabão.” Como medidas de precaução, Susanne orienta evitar andar com calçados dentro de casa; retirá-los ainda na porta; realizar a higiene dos sapatos, essencialmente na sola, e deixar secar em ambiente arejado; evitar pisar nos tapetes ao chegar da rua com o calçado sujo; manter a higiene regular dos tapetes da entrada das residências, lavando com água e sabão ou produtos próprios, e deixá-los secar ao sol, sempre que possível.
A infectologista Raquel Muarrek, da Rede D'Or, prefere, por outro lado, não usar e retirar os tapetes em época de pandemia. “Geralmente, é um item que as pessoas não lavam com frequência. E já é comprovado que o coronavírus sobrevive em superfícies, principalmente em materiais rugosos”, pondera.
Gerente da Apn Clean, empresa especializada em limpeza de tapetes em Belo Horizonte, Juliana Bárbara Machado diz que o ideal é que a limpeza seja realizada por profissionais para garantir a eficácia, mesmo porque nesses processos são usados produtos específicos, como os com base de peróxido de hidrogênio, o mesmo agente aplicado em limpeza hospitalar. “Este produto garante a eliminação de fungos, ácaros, bactérias e vírus, incluindo o coronavírus”, reforça.
No processo de limpeza, a empresa opta por realizá-la no ambiente da lavanderia, o que é fundamental para assegurar a qualidade. “Aqui, a limpeza do tapete começa com a aspiração de partículas e é finalizada com a secagem em estufa. O tapete é recolhido na casa do cliente e entregue após o término das etapas”, descreve Juliana.
Saiba Mais
“Indicamos a limpeza a cada seis meses, ou quando necessário. Para manter a limpeza profissional por mais tempo e evitar a propagação de micro-organismos, sugerimos a colocação de panos umedecidos em uma solução de água e cloro na entrada de casa”, salienta Juliana. Manter os tapetes limpos, continua, reduz potencialmente o risco de propagação do coronavírus, além de minimizar a ocorrência de doenças respiratórias e crises alérgicas. “Podemos incluir ainda a limpeza dos estofados e colchões, pois também são hospedeiros de agentes nocivos à saúde.”
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