O baixo número de testagem em massa no Brasil, atrelado aos elevados índices de assintomáticos do novo coronavírus, tem comprometido as projeções e adoção de estratégias de movimentação social. É o que afirmam pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Brasília (UnB), responsáveis pelas análises do portal Covid-19 Brasil. Nos últimos levantamentos, o grupo demonstrou que o número de infectados chega a ser 15 vezes maior do que o revelado pelos dados oficiais.
Para se chegar a esse número, os estudiosos fizeram uma fórmula matemática tendo como base a taxa de mortalidade mais fidedigna de outros países que fizeram maior número de testagens. O método faz um ajustamento da curva de casos com base no registro de óbitos, considerando que este é mais consolidado em nosso país. Quanto maior a discrepância entre a taxa de mortalidade divulgada e a estimada, maior o grau de subnotificação.
Partindo dessa metodologia, o grupo calculou que, em 11 de abril, o Brasil tinha, na verdade, 313.288 pessoas infectadas pelo Covid-19. O número oficial divulgado pelo Ministério da Saúde foi de 20.727 doentes. A estimativa colocaria o país no topo da lista dos mais contaminados, ficando atrás, somente, dos Estados Unidos, que, ontem, confirmou mais de 590 mil casos.
“Todos os modelos e projeções devem se basear na dinâmica do número real de indivíduos, e não apenas no número notificado. Quanto maior a segurança de quantos indivíduos estão, de fato, infectados, mais informadas são as decisões e planejamento”, explicou o pesquisador da UnB e um dos membros da equipe Ivan Zimmerman. O receio com as subnotificações é atrapalhar a tomada de decisões e, inclusive, abrir margem para uma quebra malplanejada das medidas de isolamento.
Segundo uma das análises do grupo Covid-19 Brasil, a reabertura do comércio e volta das atividades econômicas de maneira indiscriminada seria um desperdício de esforços já feitos, em termos de restrições de circulação.
Para chegar a essa conclusão, o grupo usou a realidade do Distrito Federal e comparou três cenários: um leva em conta as medidas de isolamento de forma continuada, o outro faz as estimativas sob um cenário sem as ações e o último traça o panorama caso as medidas tivessem sido interrompidas no início dessa semana.
Na UTI
Sem as ações de distanciamento, um pico de 12.440 internações em UTI estaria previsto para este domingo (19). Já com a continuidade da mesma, haveria ápice de 4.784 pacientes graves hospitalizados em 12 de julho. Caso o isolamento social começasse a ser interrompido abruptamente, a estimativa seria de um pico de 12.904 internações em UTI em 18 de junho.
“Mesmo com os esforços da sociedade até aqui, teremos a possibilidades de atingir picos de hospitalizações semelhantes aos previstos se nenhuma medida tivesse sido tomada, caso retornemos às atividades. Com os dados disponíveis, não temos segurança, ainda, sobre quando será o momento de flexibilizarmos o distanciamento social”, avaliou Mauro Sanchez, também pesquisador da UnB e membro do grupo.