Uma das muitas preocupações provocadas pelo rápido crescimento no número de casos do coronavírus no país é o aumento da demanda por leitos hospitalares, que são limitados e podem fazer o sistema de saúde entrar em colapso. Em cinco estados brasileiros — São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Amazonas e Pernambuco —, respectivamente, o número de infectados ultrapassa a marca das mil pessoas. Para se preparar para maior demanda, governos e prefeituras apostam em contratações de profissionais da saúde e hospitais de campanha.
No Sudeste, o número de casos, 13.371, equivale a 57,1% do total contabilizado no território nacional. Desses, 8.895 pessoas estão em São Paulo, que registrou 608 mortes pela doença até ontem. Desde o início das ocorrências, 1.524 pacientes se recuperaram da Covid-19. Mas, atualmente, a unidade federativa soma 836 pessoas internadas em unidades de tratamento intensivo (UTI) e 901 em leitos de enfermaria. “Epicentro do epicentro” da pandemia do novo coronavírus no Brasil, como definiu João Doria, a cidade paulista tem ocupação de 56% dos leitos de UTIs e 60% dos leitos de enfermaria.
A capital conta com 378 leitos de UTI, atualmente. Destes, 211 estão ocupados, segundo o prefeito Bruno Covas. A previsão é abrir mais 585 até o fim de abril, totalizando 933 novas UTIs na rede municipal. Já os leitos de enfermaria apresentam 60% de ocupação. A conta leva em consideração os 1.688 leitos acrescidos nos hospitais municipais e hospitais de campanha do Pacaembu e do Anhembi. O prefeito promete entregar mais 1.474 leitos para o combate da doença.
Além dos hospitais de campanha, que começaram a receber pacientes na semana passada, como o montado no Estádio Pacaembu, o governador João Doria anunciou a autorização para contratar 1.185 profissionais de saúde, em caráter emergencial. O objetivo é incrementar o quadro das equipes de saúde dos hospitais estaduais e reforçar a assistência aos casos de Covid-19, que disparam a cada dia no estado. Os primeiros contratados começam a atuar em 22 de abril.
O segundo estado com mais ocorrências da Covid-19 é o Rio. Ao todo são 3.231 casos registrados e 188 mortes. Para enfrentar a crescente demanda por leitos, a Secretaria de Saúde fluminense informou que disponibilizará 3.414 leitos entre capital, região metropolitana e interior. Deste número, 2 mil leitos serão em hospitais de campanha de diferentes localidades, com previsão de entrega para o fim deste mês.
A Secretaria informou, ainda, que a atual taxa de ocupação na rede estadual é de 48,5% dos leitos de enfermaria e de 71,4% dos leitos de UTI. Ao todo, o órgão tem 2.541 leitos de enfermaria e 214 de UTI disponíveis. Desses, 548 leitos foram abertos exclusivamente para pacientes com a Covid-19.
O Ceará chegou, ontem, aos 1.935 casos e 101 óbitos. Na capital, são 574 leitos reservados para atender pacientes da doença nos hospitais da Rede Sesa, de saúde pública do estado. Cidade cearense com mais registros, Fortaleza tem 192 pacientes, entre suspeitos e confirmados, internados, o que representa 33,4% de ocupação.
Mais 150 leitos estão sendo estruturados para serem anexados ao grupo formado por Hospital Geral de Fortaleza (HGF), Hospital do Coração, Hospital Geral Cesar Cals e Albert Sabin.
Escalada
Já no Amazonas, o número de infectados subiu rapidamente. Nas redes sociais, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, havia previsto colapso na rede hospitalar do estado para o começo de abril. Na terça-feira, a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS) contabilizou 636 casos da doença. Esta semana, o total chega a 1.275 casos confirmados e 71 mortes. Os números indicam letalidade no estado de 5,57%.
Em transmissão ao vivo pelas redes sociais da Secretaria de Saúde do Amazonas, a recém-empossada secretária, Simone Papaiz, acompanhada por Rosemary Pinto, diretora-presidente da FVS-AM, divulgaram dados atualizados do estado. Segundo informado, são 69 casos novos de domingo para segunda. Do total, 86% estão em Manaus. Os outros 14% se espalham por 16 municípios do interior do Amazonas. Entre os infectados, 863 pacientes estão em isolamento domiciliar. Já entre os internados confirmados, o número beira 200. São 117 leitos clínicos ocupados por pacientes da Covid-19 e outros 77 pacientes em leitos de UTI.
Rosemary Pinto ressaltou, também, outros 366 pacientes internados com suspeita da doença. Destes, 313 estariam em leitos clínicos e outros 53 em UTI. Entre suspeitos e confirmados, estão ocupados 430 leitos clínicos e 130 leitos de emergência. Vale pontuar que o estado tem “em torno de 700 pacientes que aguardam resultados” de confirmação para o novo coronavírus, disse a secretária. “Se houve coleta é porque são pacientes que apresentam uma clínica compatível com a doença, portanto, vemos um espraiamento de casos que apresentam sintomas espalhados pela cidade”, completou.
Na transmissão, ainda foi dito que a demanda por testes aumentou muito e que está sendo difícil adquirir os insumos necessários para os testes. “Nossos resultados estão demorando de quatro a cinco dias. Mesmo assim, ainda estamos em muita vantagem em relação a outros estados”, afirmou Rosemary.
Sobre a contratação de profissionais da saúde, a estimativa é que 600 sejam convocados para atender a demanda dos novos leitos no Hospital Delphina Rinaldi Abdel Aziz, unidade que atualmente conta com 75 leitos de UTI. A intenção é que chegue a 100. Outros 942 profissionais deverão ser contratados para atender ao Hospital Nilton Lins. A implementação dos novos leitos será gradativa, à medida que os profissionais forem contratados.
Ainda com mais de mil casos, Pernambuco acumula 1.154 ocorrências do coronavírus. O estado totaliza 102 mortes pela doença. No boletim epidemiológico de ontem foram contabilizados 194 casos. Do número total de pessoas infectadas, 708 estão em isolamento domiciliar. Dentre os pacientes internados, 55 estão em UTI e outros 287, em leitos de enfermaria.
Hospital de campanha "alagado"
A forte chuva que caiu em Águas Lindas (GO), Entorno do Distrito Federal, no último sábado à noite, deixou a área em que está sendo construído o primeiro hospital de campanha da União “alagada”. Com um terreno plano, a água ficou empossada no local. Além disso, parte dos tapumes que cercam a obra foi arrastada devido à força da água e do vento.
Não houve prejuízos à estrutura erguida, segundo o Ministério da Infraestrutura, mas foi necessário que a prefeitura fizesse uma obra de drenagem para retirar a água e evitar que algo do tipo se repita, de acordo com o prefeito Hildo do Candango.
O cronograma da obra se mantém, sendo 15 dias para a estrutura, contando a partir da última terça-feira, e mais 15 para instalar a aparelhagem na unidade. O hospital está sendo construído para receber pacientes da Covid-19. O presidente Jair Bolsonaro visitou o espaço na manhã de sábado, mesmo dia em que a chuva forte atingiu o local.