Aí, é preciso cuidado redobrado, muita fé e alguma coragem, como demonstram os mensageiros, que usam motos e bicicletas para transportar de comidas a remédios, de documentos a material de construção ou material de limpeza.
Normalmente apressados, às vezes até imprudentes, eles agora não precisam ser tão ousados no trânsito com bem menos carros e ônibus. Mas seguem se arriscando para propiciar conforto às pessoas.
“A gente está trabalhando bastante, graças a Deus o movimento está bom. Mas estamos tomando alguns cuidados extras. Agora, ando com álcool gel na mochila, sempre uso luvas e a cada cliente que atendo eu lavo as mãos. Passei a ter sempre uma garrafa PET de água e detergente dentro do baú”, afirma Cintia Matos Rocha, de 42 anos e que desde 2011 trabalha como motogirl.
O cuidado é redobrado quando a entrega é de alimentos. Até porque, segundo os profissionais, os próprios clientes estão mais exigentes quanto ao asseio dos entregadores.
Mesmo quando fica difícil de compactuar maior controle da higiene, dá-se um jeito. Como tem feito Luiz Fernando Mourão, de 32 anos, que desde o fim do ano passado usa uma bicicleta para entregar principalmente comida em Belo Horizonte.
“É difícil usar máscara enquanto pedalamos. Mas colocamos sempre para entrar nos prédios, na hora de fazer as entregas. Também passamos álcool gel antes e depois de manusear os produtos”, diz ele, que normalmente deixa os pacotes nas portarias ou entradas das casas. “Quando a gente tem de subir em um apartamento, aí temos de tomar mais alguns cuidados. Por exemplo, espero para usar sozinho o elevador.
Protocolos
O novo coronavírus também obrigou a criação de protocolos mesmo quando os entregadores já não estão mais trabalhando. Seguindo recomendações das autoridades sanitárias, eles tomam precauções especiais quando chegam em casa.
“Minha família eu protejo sempre. Roupas vão direto para lavar quando chego em casa e o sapato fica sempre do lado de fora”, explica Cintia.
“Moro em uma república e nunca entro com minha mochila de trabalho, que lavo sempre que posso. E quando chego em casa, vou direto para o chuveiro, coloco roupa para lavar. Mas não posso parar, estou rodando direto”, argumenta Luiz Fernando.
Correria
É justamente por não poder parar que alguns entregadores acabam relaxando com os cuidados importantes em época de pandemia. E aí é sempre bom contar com álcool gel ou uma pia com sabão nos estabelecimentos onde vão buscar os produtos a serem entregues nas casas das pessoas.
“Às vezes, nem temos tempo. Quando a demanda aumenta você corre para pegar os pedidos e por aí vai, entendeu? Mas toda vez que chego em um local que tem álcool gel, eu uso. Se tem jeito, lavo a mão”, afirma Samuel Alexandrino da Silva, de 21 anos, e que há dois desempenha a função na capital mineira, primeiro a pé e agora em cima de uma bicicleta.
É justamente pela necessidade que os entregadores aceitam arriscar a própria saúde nas ruas de Belo Horizonte. Por mais que se cuidem, sabem que estão sujeitos a ser contaminados, não só pelo novo coronavírus, mas também por outras doenças.
“Entre as coisas que entrego estão medicamentos. Então, pode ocorrer de ter contato com quem está infectado (coronavírus). Por isso, é importante ter cuidado, a gente fica alerta. Afinal, não dá para saber o que cada um pode ter”, declara Luiz Fernando.
“Não temo (ser contaminado), Deus nos protege. Além do mais, preciso sustentar a minha família e estou na rua para isso e também para que os clientes possam ficar em casa. Mesmo assim ainda tem uns que nos prejudicam, falam que não receberam o lanche, a pizza. Mas temos de continuar trabalhando”, desabafa Samuel.
Entregador decide parar por causa da família
Nem todos os entregadores de Belo Horizonte se mantiveram em atividade durante este período de restrição de atividades para conter o avanço do novo coronavírus. Há quem prefere o distanciamento social, ainda que isso traga prejuízo financeiro. É o caso do motoboy José Carlos Teixeira, de 49 anos.
Acostumado a cruzar a capital mineira várias vezes ao dia transportando os mais variados materiais, de documentos a projetos de engenharia e arquitetura, ele pensou na família ao decidir interromper as atividades há pouco mais de 20 dias.
“Resolvi parar por causa da família, tenho uma filha de 10 anos e um filho de 19. Por medida de segurança, estou em casa desde 20 de março. Melhor não ganhar (dinheiro) do que correr o risco de perder um ente querido”, afirma José Carlos, conhecido como Zezinho pelos clientes.
Para se manter, ele vem gastando o que conseguiu economizar durante a vida, inclusive nos 19 anos em que exerce a profissão. Para amenizar a situação, Zezinho espera ter o pedido para receber o auxílio emergencial do governo, no valor de R$ 600 durante três meses, aprovado. “Vai ajudar bem, inclusive para a gente poder continuar se cuidando melhor ainda”, argumenta.
O motoboy acredita ter recursos para se manter por mais dois meses. Porém, não vê a hora de voltar a rodar pelas ruas e avenidas da Região Metropolitana de Belo Horizonte, não só por necessidade, mas por gostar do que faz. “Este é um momento complicado, mas vai passar. Sem um ganho a gente fica um tanto quanto preocupado, mais vai dar tudo certo. Tenho certeza que há de se resolver”, acredita Zezinho. (PG)
Cartilha para os motoboys
Os diversos aplicativos de entrega de produtos têm sempre procurado instruir os colaboradores sobre a importância das medidas de profilaxia, ainda mais em época de pandemia.
O problema é que nem sempre conseguem mobilizar os trabalhadores, como é possível atestar ao se passar por quarteirões fechados da Praça Sete, no Centro, ou da Praça da Savassi, ambos em Belo Horizonte. Nesses locais, é comum ver entregadores sentados no chão ou escorados em canteiros, além de mochilas para o transporte de alimentos jogados.
Saiba Mais
A falta de contato entre entregadores e os clientes também foi adotada por outra gigante do setor. Além disso, diz que está “fornecendo orientações aos restaurantes parceiros para garantir que todos os pedidos sejam adequadamente lacrados em embalagens invioláveis”. E também está sempre “em contato com autoridades locais de saúde pública” e “seguindo as orientações” para o fazer o que puder para ajudar a impedir a propagação do novo coronavírus.